Chapter 97: Capítulo 97: Monarca!
— Ontem? — murmurou Kay, tentando se lembrar. — Eu não entendo. Por que eu não consigo te recusar, mesmo sem me lembrar de você?
— Ele perdeu mesmo a memória — constatou Aiko. — Mas inconscientemente você sabe que me aceitou como namorada! Ainda podemos ter esperança de recuperar suas memórias!
Kay suspirou, exausto.
— Eu te aceitei? Então por que pediu de novo? — perguntou ele.
— Para ver se você se lembrava de mim, mas parece que não completamente — explicou Aiko.
— Você parece um pouco com a Emilia — disse Kay, observando-a.
— Você disse isso ontem. Eu sou Aiko, prima da Emilia. Lembre-se disso! — insistiu Aiko.
— É prima dela? Então é da realeza também? — perguntou Kay, confuso.
— Na verdade, sou cientista do instituto. A família real são eles — explicou Aiko.
— Entendo... Deve ter sido coisa da Emilia — murmurou Kay.
— Não! Foi ideia minha mesmo — disse Aiko, entregando um pacote. — De toda forma, vim trazer seu traje.
Kay abriu a sacola, encarando o conteúdo.
— O que você fez?! — exclamou Kay, surpreso.
— Conseguiu notar? — disse Aiko, sorrindo satisfeita. — Usei um pouco do general nesse traje. Claro que o restante foi guardado para um traje novo, então não se preocupe!
— Eu não consigo notar a diferença entre os trajes. Então, para mim, tanto faz qual ghoul você usou — comentou Mira, cruzando os braços.
— Entendo. Obrigado, Aiko — disse Kay, bagunçando o cabelo dela em um gesto carinhoso.
— Por nada! — respondeu Aiko, um pouco corada. — Vou ver se consigo te fazer lembrar de ontem, mas, por enquanto, quero que faça um teste.
— Teste? — perguntou Kay, arqueando uma sobrancelha.
Rem e o antigo capitão se aproximaram.
— Seu corpo é nada mal, velhote! — disse Kay, soltando uma risada provocadora.
Rem o socou no braço sem hesitar.
— Por que fez isso?! — reclamou Kay, massageando o local atingido.
— Mais respeito, Kay! Esse senhor é o antigo capitão dessa divisão! — disse Rem, séria.
— Hein?! — exclamaram Kay e Mira ao mesmo tempo, incrédulos.
— Jovens são tão animados! — comentou o ex-capitão, rindo.
Kay se inclinou para Mira e sussurrou:
— Achei que os capitães estavam mortos!
Rem, mais uma vez, o socou.
— Ele passou o posto para Takemichi e depois se aposentou! Nunca mais ouvimos falar dele, então também achamos que ele tinha batido as botas — explicou Rem.
— Então por que me socou de novo?! — exclamou Kay, indignado.
— Não gostei de como falou! — retrucou Rem.
Mira, rindo discretamente, saiu do colo de Kay e fez uma reverência educada.
— É um prazer conhecê-lo. Eu sou a filha da Rem e do Takemichi. Meu nome é Mira — disse ela.
— Então é você! Está bem grandinha! Como o tempo passa rápido! — comentou o ex-capitão, nostálgico.
— Que experimento você quer que eu faça? — perguntou Kay, mudando o foco da conversa.
— O capitão aqui tem 80% de compatibilidade com o traje. O traje dele não está mais em uso, mas a porcentagem permanece. Quero saber se, ao usar o traje dele, sua porcentagem vai para 100%. Poderia colocá-lo? — explicou Aiko.
— Só isso? — perguntou Kay.
— Sim! — respondeu Aiko, empolgada.
— Tudo bem — disse ele, dando de ombros.
— Aqui está! — disse o ex-capitão, entregando o traje.
Kay segurou o traje, surpreso pelo peso. "É mais pesado que o nosso. Impressionante!"
Aiko começou a gravar novamente enquanto segurava um tablet, monitorando as porcentagens do traje.
Kay vestiu o traje e ficou parado.
— Ué? Por que não saiu do zero? — exclamou Aiko, confusa.
— Está olhando o traje certo? — perguntou Fernanda.
— Com quem acha que está falando? É claro que é o traje certo! — respondeu Aiko, irritada.
— Que estranho... — disse Kay, movendo os braços para testar.
— O que aconteceu? — perguntou Mira, preocupada.
— Não sinto que estou diferente de como estava antes de vesti-lo — respondeu Kay.
— Mesmo sendo um traje de outra pessoa, ainda assim deveria ter alguma porcentagem — comentou Aiko, franzindo a testa.
— Isso é estranho... — murmurou Fernanda.
— Já volto — disse Kay, fechando os olhos repentinamente.
— O que vai fazer?! — exclamou Aiko.
— Está meditando. Ele não vai te ouvir agora — explicou Fernanda, cruzando os braços.
— Eu li sobre isso. Achei que "meditar" era só uma palavra para um treino mais complexo, mas não acredito que era literalmente isso! — disse Aiko, impressionada.
De repente, Kay começou a emanar uma aura intensa e ameaçadora.
— O que está acontecendo?! — exclamou Aiko, recuando assustada.
— Que pressão impressionante! — comentou o ex-capitão, admirado.
"Ele não está com medo... Impressionante!" pensaram os soldados, suando frio.
— Estou com medo! — admitiu Aiko, encolhendo-se.
— Já chega, Kay! — disse Rem, tocando o ombro dele.
Kay não reagiu, e sua aura continuou se expandindo.
— Para com isso! — ordenou Mira, com firmeza.
A aura de Kay diminuiu, e o ambiente voltou ao normal. Ele abriu os olhos lentamente.
— Eu tentei localizar o ghoul, até mesmo ameaçá-lo para que aparecesse, mas parece que ele já deixou de existir — disse Kay, pensativo.
Aiko se recompôs e retomou a gravação.
— Quem?! — perguntou ela, ainda confusa.
— A consciência do ghoul que habitava o traje. Ela desapareceu completamente — explicou Kay.
— Por quê? — perguntou Mira, intrigada.
— Não sei. Mas, sem o ghoul, esse traje agora é apenas uma roupa comum. Talvez seja possível repará-lo com outros ghouls novos, mas a porcentagem original será afetada — disse Kay, tirando o traje e devolvendo ao ex-capitão.
— Então, isso significa que o Julius não matou o ghoul dele, mas o domou completamente! — comentou Fernanda.
— Pois é. Foi uma análise errada da minha parte. É interessante... Matei o meu ghoul algumas vezes, e ele nunca morreu de verdade! — disse Kay, rindo levemente.
— Tente usar o traje para ver se ele reage! — sugeriu Aiko ao ex-capitão.
Ele vestiu o traje, mas nada aconteceu.
— Pois é, parece que já era... — disse Aiko, suspirando.
— Entendo. Não precisa repará-lo. Já não o usava mesmo. Ao menos guardarei isso como lembrança do meu tempo no exército — disse o ex-capitão, nostálgico.
— Você que sabe. Esse era o único teste que faltava. Agora vou coletar um pouco do seu sangue, amorzinho, para analisar depois! — disse Aiko, tirando uma seringa da pochete em sua cintura.
— Tudo bem... — respondeu Kay, sentando-se na cadeira.
— Por que anda com isso? — perguntou ele, olhando para a seringa.
— Nunca se sabe quando vai precisar! — respondeu Aiko, sorrindo.
— É melhor coletar meu sangue logo! disse ele
— Por que? — exclamou aiko
— Tem um ghoul poderoso vindo em alta velocidade para cá! — alertou Kay, apressado.
Ela coletou o sangue e puxou a agulha. Kay abriu uma garrafa e bebeu todo o café de uma só vez.
— É o monarca? — perguntou Ravena, alarmada.
— Sim! Coloquem todo o reino em estado defensivo. Chamem todos os soldados para ficarem de guarda na muralha. Eu vou cuidar desse ghoul! — ordenou Kay, com uma determinação assustadora.
— Vamos ajudar! — sugeriu Rem.
— Dessa vez, não. — Kay balançou a cabeça negativamente.
— Não! — protestou Mira, cheia de medo.
Kay se aproximou dela e a abraçou rapidamente.
— Eu volto logo! Cuide de todos aqui. Você é a capitã! — disse ele, afastando-se.
— Não vá sozinho! — gritou Mira.
— Ativar quebra de limite! — disse Kay antes de desaparecer em alta velocidade.
— Logo agora! — murmurou Rem, irritada com a situação.
— Avisem todos os soldados pelos rádios! Quero aquelas armas na muralha apontadas para esse ghoul. Vamos dar suporte ao Kay. Avisem os guardas para ficarem em alerta! — ordenou Mira, assumindo o comando.
— O que está acontecendo? Vimos o Kay pegando as armas e voando apressado! — perguntou Joana, correndo até elas.
— É o tal do monarca. Ele está vindo! — explicou Mira, com urgência.
— Não tivemos nem tempo de nos recuperar! — lamentou Lena.
— Vamos apoiá-lo! Chamem os outros! — gritou Mira.
— Certo! — afirmaram os soldados, correndo para se preparar.
A cena muda para uma área afastada da muralha.
— Veio sozinho, humano? Quanta imprudência! — disse o monarca, com uma voz imponente.
— Você é bem alto! — comentou Kay, avaliando-o.
— Como sabia que eu estava vindo? — perguntou o monarca, curioso.
— Seu cheiro é repugnante — respondeu Kay, retirando sua arma de fogo e colocando-a no chão.
— Em contrapartida, o cheiro dos humanos é delicioso! — provocou o monarca, sorrindo.
— Bom para você! — disse Kay, retirando o bastão e colocando-o ao lado da arma.
— Não está com medo? É melhor reavaliar suas chances de vitória... — disse o monarca, confiante.
Kay jogou a bainha no chão, apontando a espada diretamente para o inimigo.
— Eu já avaliei... e você irá morrer! — disse Kay, colocando a máscara no rosto.
O monarca manifestou um de seus tentáculos, preparando-se para o confronto.
O reino inteiro tremia. As pessoas, assustadas, acreditavam que se tratava de um terremoto, mas logo o alarme de ghoul ecoou pelos céus, enviando ondas de pânico através das muralhas.
— Eles já começaram! — disse o ex-capitão, seu rosto marcado por anos de batalhas e sacrifícios.
— Eu queria que você ficasse longe disso... — murmurou Rem, os olhos baixos, a voz carregada de preocupação.
— Se vocês vão lutar pelo reino, então eu quero assistir! — afirmou o ex-capitão, com um tom desafiador. — Já sou velho. Se eu estiver em perigo, foquem em vocês!
— Ninguém vai morrer! É por isso que estamos indo ajudar o Kay! — declarou Mira, com determinação feroz, enquanto apertava o punho ao redor de sua arma.
Os soldados já estavam a bordo dos helicópteros, voando em direção ao campo de batalha.
No meio do campo desolado, o monarca permanecia imponente, sua presença esmagadora. Seus tentáculos serpenteavam pelo ar como predadores famintos, desferindo ataques violentos contra Kay.
— É realmente interessante... mas para me ferir, você vai precisar de muito mais do que isso! — zombou o monarca, enquanto um de seus tentáculos golpeava o solo, levantando uma nuvem de poeira.
Kay desviava com maestria, o olhar frio e calculista.
— Do que está falando? Quando foi que eu tentei te atacar para valer? — provocou Kay, com um sorriso desafiador. — Mas já que você está começando a se achar... acho que é hora de matar você!
Kay esquivou-se de outro ataque, movendo-se com uma velocidade impressionante.
— Até que você está desviando bastante. — O monarca riu, o som profundo e intimidador. — Você é o primeiro humano a durar tanto tempo contra mim!
Kay parou de se mover, o olhar fixo no inimigo.
— Tudo bem, eu já entendi... — disse ele calmamente.
— Já vai desistir? — zombou o monarca, inclinando a cabeça com desdém.
— Vem lutar de verdade! Assim, eu também posso me divertir! — respondeu Kay, entrando em uma postura de ataque, sua espada brilhando sob a luz tênue.
— Humano maldito... vê se não vai morrer! — rugiu o monarca, manifestando mais três tentáculos que se ergueram ao redor dele como lanças prontas para perfurar.
— Agora está ficando divertido! — exclamou Kay, avançando com um brilho assassino nos olhos.
Os helicópteros chegaram à muralha, e os soldados desceram rapidamente no topo dela. O ruído das hélices ecoava, abafando momentaneamente os sons distantes da batalha. O helicóptero pousou dentro das muralhas, enquanto Mira e o restante do esquadrão observavam o confronto lá embaixo.
— Estão vendo eles? — exclamou Mira, tentando localizar Kay e o monarca.
— Eles estão lá, mas estão se movendo rápido demais para acompanhar! — respondeu Ravena, apertando os olhos na tentativa de enxergar melhor.
— O que foi? Por acaso deixou cair uma moeda? — zombou o monarca, parando de se mover.
Kay estava de joelhos no chão, respirando com dificuldade.
— Kay! — gritou Mira, com o coração disparado.
Kay ergueu a cabeça, seu olhar repleto de determinação.
— Às vezes, se abaixar para pegar uma moeda pode ser vantajoso... — disse ele, enquanto lentamente se levantava, limpando o sangue do canto da boca. — Mas... e quanto a você?
O monarca hesitou, olhando para baixo. Seus olhos se arregalaram ao perceber que suas pernas estavam cortadas. Ele caiu no chão, sem equilíbrio, enquanto Kay avançava e pisava em sua cabeça.
— Um monarca se curvando para um humano é ainda mais patético do que um humano se ajoelhando para pegar uma moeda! — disse Kay, rindo de maneira sombria, com o peso da vitória já na voz.
Mas o triunfo foi breve. Diante dos olhos de Kay, as pernas cortadas do monarca começaram a se regenerar, unindo-se novamente ao corpo com rapidez assustadora.
— Isso foi impressionante... — admitiu o monarca, levantando-se como se nada tivesse acontecido.
Kay recuou, surpreso, enquanto o monarca o encarava com um sorriso cruel.
— Eu avisei... para me levar a sério, seu verme! — rugiu o monarca, sua voz ecoando como um trovão.
— O que está escondendo? Mostre logo tudo o que você tem! — provocou Kay, o olhar fixo no monarca.
— Cuidado com o que pede, humano. — O monarca respondeu com um sorriso de desdém. — Eu não sinto nenhum pingo de perigo vindo de você!
De longe, Fiona observava a batalha, inquieta.
— Por que estão parados? — exclamou ela, apertando os punhos.
— Eles estão se provocando... — respondeu San, com a voz baixa e séria. — Para lutarem usando tudo o que têm.
Mira fechou os olhos, tentando se concentrar em meio à tensão.
— Consegue ouvir? — perguntou ela, alarmada.
— "Consegue enfrentar isso?" — repetiu San, traduzindo as palavras ditas pelo monarca com um tom sombrio.
O monarca moveu-se como um raio, seus tentáculos disparando em sincronia mortal em direção a Kay, que permanecia imóvel, observando calmamente.
— Isso não tem graça! — disse Kay, avançando com um sorriso desafiador.
Os dois desapareceram da vista dos soldados, movendo-se em uma velocidade impossível de acompanhar. Quando reapareceram, Kay já havia manifestado um dos tentáculos de seu traje, que atravessava a cabeça do monarca como uma lança mortal. Antes que o corpo caísse, Kay girou no ar, usando os tentáculos como apoio, e com um golpe preciso cortou o pescoço do inimigo.
— Eu disse para me levar a sério! — rosnou Kay, observando a cabeça decapitada do monarca cair no chão com um baque surdo.
— Ele conseguiu? — exclamou Sky, os olhos arregalados de esperança.
San, no entanto, não compartilhou do otimismo.
— Ainda não... — murmurou ele. — "Estava escondendo algo interessante, humano." — repetiu as palavras que o monarca havia dito antes.
A cabeça cortada do monarca começou a se mover, como se atraída por um ímã. Em um instante grotesco, uniu-se novamente ao corpo, restaurando-o completamente.
— Que coisa chata... só morre de uma vez! — reclamou Kay, irritado.
O monarca, agora regenerado, parecia empolgado.