Chapter 95: Capítulo 95: Uma forma de se proteger!
Ravena e Sarah foram as primeiras a descer da aeronave, seguidas por Brenda e Alex.
— Já chegamos. — disse Ravena, sua voz calma e controlada.
Dentro do helicóptero, Mira e Rem permaneciam sentadas. Rem segurava Mira em um abraço apertado, ambas visivelmente devastadas pela perda.
— O Kay está ali esperando! — disse Alex, apontando para a figura imóvel.
— Kay? — perguntou Mira, visivelmente confusa.
— Melhora esse rosto, não vai querer deixá-lo ainda mais preocupado. — disse Rem, tentando encorajar a filha.
— Você também! — rebateu Mira, com um olhar cansado, mas firme.
Rem forçou um breve sorriso para confortá-la e se levantou.
— "Mãe?" — pensou Mira, surpresa, antes de segui-la.
As duas saíram do helicóptero, o ar frio da madrugada envolvendo-as.
— Ele não se moveu nem um pouco! — comentou Brenda, observando Kay.
— Deve estar sem jeito para te encontrar. Vai até ele! — incentivou Rem.
Mira hesitou, mas começou a se afastar em direção a ele.
— Será que é isso? Não esperava que ele fosse encontrar a Mira usando a máscara... — murmurou Ravena, pensativa.
— Como Alpha Zero, né? Já entendi! — disse Rem, rindo baixinho.
Mira se aproximou sem dizer nada. Ao chegar perto de Kay, apoiou-se nele, buscando conforto.
— Ficou esperando aqui a noite toda... Eu já vou te acordar, mas só me deixa assim um pouquinho. — disse Mira, sua voz embargada.
— Ele está dormindo. — constatou Rem, cruzando os braços.
— Faz sentido. — comentou Sarah, com naturalidade.
De repente, Kay, ainda adormecido, abraçou Mira instintivamente.
— Você está acordado? — exclamou Mira, confusa, puxando levemente a máscara dele.
Ao removê-la, percebeu que ele ainda dormia profundamente.
— Que curioso... Isso deve ser uma reação automática, uma manifestação inconsciente do desejo dele de se preparar para te confortar. — explicou Rem, aproximando-se com os outros.
— Mira? — chamou Ravena, igualmente confusa.
Mira, no entanto, parecia finalmente relaxar nos braços de Kay.
— Eu não entendo... Mas é tão quentinho... — murmurou Mira, fechando os olhos enquanto lágrimas escorriam por seu rosto.
— Então fica aí. Eu preciso de um banho. — disse Rem, afastando-se.
— Eu preciso dormir um pouco! — declarou Brenda, já se virando.
— Eu também. — concordou Alex, seguindo-a.
— Faça algo com as pernas dele depois! — brincou Ravena, referindo-se à posição de Kay, antes de se afastar.
— Que bom, né, Mira? Aproveite. — completou Sarah, saindo em seguida.
Mira permaneceu onde estava, chorando em silêncio, mas parecia mais tranquila naquela situação.
— Me desculpa... — murmurou Kay de repente, sua voz quebrando o silêncio.
As garotas pararam no mesmo instante.
— Kay? — chamou Mira, surpresa.
— Eu não cheguei a tempo para ajudar o capitão... — disse Kay, acordando lentamente.
Mira ficou em silêncio, absorvendo suas palavras. As outras o observavam, confusas. Então, sem dizer nada, Mira se inclinou e o beijou.
— Obrigada. Vou fazer um café. Você tem algo para entregar à minha mãe, não é? Ela está ali. — disse Mira, afastando-se rapidamente.
Mira saiu apressada, deixando Kay e as outras em um misto de perplexidade e preocupação.
— "Mira?" — pensaram todos, confusos.
Kay começou a se mover lentamente.
— Como você saiu? Seus pés estavam dentro do chão. — comentou Ravena.
— Eu só puxei. — respondeu Kay, exausto. Ele abaixou a cabeça, triste. — Deixei ela ainda mais triste. Acabei piorando tudo...
— Não foi isso. Parece até que ela viu um fantasma. — disse Rem, com um olhar analítico.
Kay respirou fundo, então estendeu algo à Rem.
— Não sei quem contou para ela, mas só consegui recuperar isso do capitão... — disse ele, mostrando a aliança de casamento.
Rem a pegou delicadamente, olhando para o objeto com emoção contida.
— Não precisa se sentir culpado por isso. Já foi um milagre você ter chegado a tempo de matar os Ghouls. Eu te agradeço por ter vingado ele por nós. — disse Rem, acariciando a cabeça de Kay com ternura.
— Me desculpa... — repetiu Kay, com a voz embargada.
— Está tudo bem. Há muito tempo, eu sabia que isso poderia acontecer, mas recusava acreditar que seria possível. Nós vamos superar. Não se preocupe. Agora vamos entrar, nossa chegada deve ter acordado os soldados! — disse Rem, com um sorriso tranquilizador.
— O quê? Não era para estarmos na Terceira Divisão? — perguntou Kay, confuso.
— Do que está falando? — rebateu Rem, franzindo o cenho.
— Por que estamos na base? Eu... dormi de novo? — perguntou Kay, levando a mão à cabeça.
— Kay? Não é hora para brincadeiras! — disse Ravena, preocupada.
De repente, Kay cambaleou, sua expressão se contorcendo de dor.
— General... Quem? Um Ghoul? Por que eu não me lembro...? — balbuciou Kay antes de desmaiar.
— Parece que minha filha sabe o que está acontecendo. Levem o Kay para a enfermaria. Vamos até a cozinha ouvir o que a Mira tem a dizer. — ordenou Rem, com autoridade, enquanto se afastava.
— Eu levo ele. — disse Alex, levantando Kay com cuidado.
Enquanto Alex levava Kay à enfermaria, Rem e as outras seguiram para a cozinha. Lá, encontraram Mira chorando ainda mais enquanto preparava café.
— E então, o que tem para nos dizer? — perguntou Rem, direta.
Pouco depois, já no refeitório, todas estavam sentadas. Mira começou a se acalmar, embora seus olhos ainda estivessem vermelhos.
— Eu me lembrei daquele calor. Aconteceu uma vez no passado... Depois que o Kay matou o Ghoul na floresta, ele estava chorando. Eu estava com medo, mas fui consolá-lo. — disse Mira, a voz embargada pelas memórias.
— Isso eu lembro. Vocês estavam abraçados. — respondeu Rem, com um olhar distante, recordando-se da cena.
— Foi naquele momento... Eu não entendo, e parece que o Kay também não percebeu, mas quando o abracei, senti aquele mesmo calor. Pouco depois, ele desmaiou. E então, todas as memórias daquele dia... Tudo que ele sentiu, veio para mim. Pelo menos o restante do dia, depois que ele bebeu meu café. A memória da morte dos pais dele, dele matando o Ghoul... Ele perdeu, mas eu me lembro de tudo que ele viu! — disse Mira, emocionada.
— Está dizendo que, desde o momento em que estávamos para sair da Terceira Divisão até agora, ele não vai se lembrar de nada? — exclamou Rem, alarmada.
— Sim. Só tem uma coisa que ele não esqueceu: a maneira como o Ghoul se move. Ele deve se lembrar disso, mas não de forma clara, é mais como um instinto. — explicou Mira.
— Que palhaçada é essa?! Ele vai mesmo esquecer tudo, enquanto você fica com as memórias dele? Isso não pode acontecer! — protestou Ravena, indignada.
— Não foi o Kay que escolheu! Ele nem sabe que isso já aconteceu antes. Nem imagina que eu tenho as memórias da morte dos pais dele! — rebateu Mira, tentando justificar.
— Faz ele se lembrar! — disse Ravena, pegando o celular e mostrando um vídeo de Kay no castelo.
— Ele sonha muitas vezes com aquele dia, mas nunca se lembra. — respondeu Mira, em tom melancólico.
— Tenta mesmo assim! — insistiu Ravena, estendendo o celular.
— Quando ele saiu do avião, já começou a se sentir culpado. Ele pensa o tempo todo que tudo seria diferente se não tivesse que pagar aquela punição. Ele acredita que seria diferente se ao menos você estivesse ao lado do meu pai naquele momento. — disse Mira, tentando conter a frustração.
— O que ele queria? Que eu morresse também?! — exclamou Rem, chocada.
— Você sabe que não é isso! — disse Mira, firme.
— Eu sei... Talvez, juntos, tivéssemos conseguido matar o general Ghoul. Mas e quanto aos outros Ghouls no local? Quantos humanos teriam morrido até matarmos todos eles... Se é que mataríamos. — refletiu Rem, com um olhar distante.
— O Kay já está nos 200%. — afirmou Mira, como se isso fosse óbvio.
— Ele quebrou essa porcentagem há muito tempo, quando usou 150%. Então, pensar que ele pode ir além é natural. — concordou Rem.
— Só que uma das cientistas que cria e repara os trajes disse que é impossível ultrapassar 100% sem a quebra de limite. O Kay acha que o Julius também consegue, mas nem ele parece ter certeza disso. — disse Mira.
— Por que está mudando de assunto? Ele usar mais o traje é algo bom para o exército, não é? — perguntou Rem.
— Só que essa cientista... Ela virou namorada dele. — revelou Mira, séria.
— Como isso foi acontecer?! — exclamou Rem, surpresa.
— Parece que aquela promessa de ele aceitar as garotas essa semana ainda estava funcionando, mas, para ele, soou mais como uma ordem. Ele aceitou na mesma hora. — disse Mira, cruzando os braços.
Ravena ficou visivelmente abalada.
— Não foi a mesma coisa com você. Ele ficou pensativo sobre você. Mas com essa garota... Ele aceitou no mesmo instante. Tinha algo errado com ele. — explicou Mira, olhando para Ravena.
— Errado? Como assim? — perguntou Ravena, confusa.
— Parecia hipnose. No instante em que ela pediu, mesmo de brincadeira, ele aceitou. Foi estranho. — afirmou Mira.
— "Elas mudaram completamente de assunto..." — pensaram as outras garotas, observando de longe.
— Mas por que ele aceitaria alguém que nem conhece? — insistiu Ravena.
— Ela parece a Emília. Na verdade, são primas. — revelou Mira.
— Cientista prima de uma princesa? Onde já ouvi isso? — murmurou Rem.
— Aiko. É uma prodígio que... — começou Brenda, mas foi interrompida pelo som distante de um helicóptero.
— Outro esquadrão? Deve ser o Segundo, mas não chegaria ao mesmo tempo que nós. — disse Ravena, intrigada.
— Tem razão. — concordou Rem, sacando sua espada.
— Não se preocupem! Já fomos informadas da chegada deles. — disse Fernanda, entrando no refeitório.
— Quanto tempo está aí?! — exclamou Mira, surpresa.
— Acabei de chegar. Meus pêsames. — disse Fernanda, com sinceridade.
— Obrigada. — responderam Mira e Rem ao mesmo tempo.
— Parece que essa prodígio de quem falam já reparou o traje dele pessoalmente. Eu entendo ela se interessar pelo traje de um 100%, mas reparar pessoalmente? Dá até invejinha! — brincou Fernanda.
— Já repararam o traje dele? Ele usou a quebra de limite! Isso não foi rápido demais? — perguntou Ravena, incrédula.
— Ele absorveu os Ghouls enquanto passava pelas divisões. Não lembra que ele pediu isso? Mas, de fato, o traje deveria estar danificado. Ainda assim, chegou intacto, a ponto de ele matar todos os Ghouls e passar horas usando-o sem problemas. — explicou Fernanda.
— O traje dele estava danificado, mas quando absorveu o general, foi reparado. — disse Mira.
— O Kay te contou isso? — perguntou Fernanda, desconfiada.
— Mais ou menos. — respondeu Mira.
— Aquele general tinha uma regeneração anormal. Não diria que era instantânea, mas muito veloz. Pelo relato dos soldados, era menos de um minuto. — explicou Fernanda.
— Sem comer nada? — perguntou Rem, surpresa.
— Nada. — confirmou Fernanda.
— Já não basta eles serem mais fortes que nós, agora também se regeneram? — disse Ravena, irritada.
— O Kay o matou em poucos segundos. Vamos ter que quebrar nossos limites também, se quisermos ter alguma chance. — disse Mira, determinada.
— O Kay é anormal. Não tem como quebrar o limite de algo limitado a 100%. — argumentou Fernanda.
— Se ele foi capaz, então é possível! Só precisamos descobrir como. — respondeu Mira.
— Essa base é agitada... — comentou Momo, entrando no refeitório.
— Você é a líder do esquadrão enviado pela Yumi? — perguntou Mira.
— Que honra! Lembrou de mim? Estou feliz! — disse Momo, com um sorriso.
— Ela é alta... — pensaram as outras garotas, olhando para Momo.
— Agradeço por ter vindo! Foi difícil convencer sua capitã a ficar lá com a divisão dela. Ela ficou esperando no aeroporto por nós. — disse Mira.
— Ela o quê?! — exclamou Nina, entrando no refeitório.
— Ela voltou logo depois para sua base. Desculpa dar esse trabalho para vocês. — disse Mira, com um sorriso cansado.
— Não se preocupe. Ela nos dá trabalho o tempo todo. — respondeu Nina, com um tom brincalhão.
Mira riu, parecendo mais leve.
— Eu me sinto melhor. Vou preparar um café. Receba ela, Rem! — disse Mira, indo para a cozinha.
— Tudo bem! — respondeu Rem, levantando-se. — Vamos lá fora conhecer essa prodígio.
— Ela veio? — perguntou Ravena, curiosa.
— Provavelmente. — disse Rem, saindo em direção ao pátio.
— Como será essa garota? — perguntou Sarah, intrigada.
— Vamos descobrir. — disse Rem, com um sorriso.
No pátio, algumas garotas ainda olhavam de relance para Mira, que permanecia na cozinha.