Chapter 94: Capítulo 94: Convicção!
Na base da sexta divisão.
— Vocês demoraram! A audiência já acabou faz tempo! — reclamou Lena, os olhos visivelmente inchados, denunciando que havia chorado.
— Foi minha culpa a demora. Onde estão os outros soldados? — perguntou Kay, já sem a máscara, seu tom direto.
— No refeitório, nos quartos, na sala de treino... Estão por aí, dentro da base. — respondeu Lena, com um suspiro pesado.
Kay analisou o ambiente ao redor e franziu a testa.
— Só o seu esquadrão permaneceu aqui? A coisa está feia... — disse ele, sério.
— O que você esperava? Fomos um peso em Mineforde! Por nossa culpa, o capitão morreu! — gritou Lena, segurando a camisa de Kay com força, a voz carregada de frustração e dor.
Kay segurou o pulso dela com firmeza, mas sem agressividade, e falou com determinação:
— Depois dessa semana, não vamos mais ser os mesmos.
Lena o encarou, confusa e desconfiada.
— O que quer dizer com isso? — perguntou ela, sua voz carregada de uma mistura de curiosidade e raiva.
Kay deu um passo à frente, olhando diretamente nos olhos dela. Sua presença era quase esmagadora.
— Eu memorizei os estilos de luta de todos vocês, de dois capitães, de vários Ghouls... e até do ataque de um general. Sei tanto a velocidade quanto a forma de ataque deles. Vou reproduzir tudo. — Ele fez uma pausa, deixando que as palavras ecoassem no ambiente.
Lena piscou, surpresa, sem conseguir falar nada.
— Vocês vão lutar contra mim até que fiquem mais fortes. Vamos treinar até o momento em que nenhum de vocês paralise novamente diante de um inimigo! — disse Kay, sua voz firme e resoluta
Nos olhos de Lena havia algo diferente: um lampejo de esperança misturado à determinação.
— Promete? — exclamou Lena, com a voz embargada, mas cheia de força.
— Sim. Generais serão piadas para vocês! — respondeu Kay, com firmeza.
— Então não nos dê essa semana. Vamos começar o treino agora! — insistiu Lena, ansiosa.
Kay colocou a mão sobre a cabeça dela, como um gesto tranquilizador.
— Nossos companheiros precisam desse tempo para refletir. Mira e Rem precisam de um tempo para elas. — Ele falou com calma, olhando nos olhos de Lena.
— Desculpa. Quem mais vai sofrer pelo capitão serão as duas... Eu só estava pensando em mim. — Lena baixou a cabeça, sentindo-se culpada.
— Rem e Mira vão ficar felizes em saber que Takemichi era amado. Não peça desculpas por isso. — Kay retirou a mão dela e deu um pequeno sorriso.
Lena soltou a camisa de Kay e endireitou a postura.
— Vou esperar vocês voltarem! — disse ela, com um tom mais resoluto.
— Não vai para sua casa? — perguntou Kay, franzindo a testa.
— Minha casa é aqui. — A resposta foi firme, sem hesitação.
— Entendo. Você terá companhia, então não ficará sozinha. Tente se alegrar durante essa semana. — Kay se afastou, acenando levemente.
— Sim! — respondeu Lena, com um sorriso pequeno, mas sincero.
— Vamos comer alguma coisa. Elas só chegam amanhã, e é melhor descansarem até lá. — sugeriu Kay.
Algumas horas depois, na base.
O esquadrão enviado pela Quinta Divisão chegou em diversos helicópteros.
— Parando para pensar... Vai caber todos esses helicópteros aqui dentro? — questionou Kay, olhando para o espaço limitado do hangar.
— Certamente que não! — respondeu Fiona, cruzando os braços e observando a movimentação.
— Nossos helicópteros devem levar os veículos para fora da base. Não vamos usá-los nesta semana de qualquer forma. — disse Kay, com autoridade.
— Vou passar o recado! — afirmou Alex, já se dirigindo para a área de pouso.
— Eu vou com ele! — disse Brenda, apressando-se para acompanhá-lo.
Eles se afastaram enquanto as hélices dos helicópteros paravam de girar.
Os líderes dos esquadrões da Quinta Divisão desembarcaram e caminharam em direção aos soldados da base.
— Agradeço por terem vindo tão rápido! — disse Kay, com um tom formal.
— Ouvimos que era urgente e viemos prestar apoio durante essa semana. — respondeu Takahiro, líder do Sétimo Esquadrão, estendendo a mão para Kay.
Kay apertou a mão dele com firmeza.
— Eu agradeço. — respondeu, sério.
— O que estão planejando? — perguntou Takahiro, olhando ao redor com curiosidade.
— Vocês provavelmente não receberam a notícia ainda... Nosso capitão está morto. — revelou Kay, o peso da notícia visível em sua voz.
— Takemichi? Eu sinto muito pela sua perda. Como isso aconteceu? — perguntou Takahiro, claramente abalado.
— Foi um Ghoul. — disse Kay, direto.
— Hein? — Takahiro arregalou os olhos, confuso.
— Um capitão morto por um Ghoul. Sei que é difícil de acreditar, mas foi isso que aconteceu. — Kay manteve o tom firme, apesar da incredulidade de Takahiro.
— Por um único Ghoul? — Takahiro parecia ainda mais perplexo.
— Siga o Ryuji. Ele vai mostrar um vídeo que foi transmitido no castelo real, e vocês entenderão tudo. — explicou Kay.
— Tudo bem. — assentiu Takahiro, ainda tentando processar a informação.
Ryuji conduziu o grupo até uma parede próxima e começou a mostrar o vídeo em seu celular.
Nesse meio tempo, Alex retornou ao lado de Kay.
— Trouxemos os helicópteros! — informou Alex.
— Bom trabalho. Pilote seus helicópteros e estacione-os fora da base, mas mantenham-nos próximos o suficiente para podermos usá-los rapidamente. — instruiu Kay, com a voz de comando que inspirava respeito.
— Certo! — responderam os pilotos em uníssono, seguindo para suas respectivas aeronaves.
Kay bocejou, o cansaço evidente em seus olhos.
— Vai dormir? — perguntou Lena, com a testa franzida.
— Não! Vou esperar elas chegarem. — respondeu Kay, esticando os braços para espantar o sono.
Takahiro, ainda desconfiado, o encarou seriamente.
— De que nível era o seu capitão? — questionou ele, a voz carregada de curiosidade e preocupação.
— Em torno de 98% a 100%. — respondeu Kay, direto, enquanto cruzava os braços.
A expressão de Takahiro mudou instantaneamente. Ele arregalou os olhos, descrente.
— Um capitão com quase 100% perdeu para um Ghoul... E você nos chamou para reforçar algo que vai além de um Ghoul? É isso mesmo que está dizendo? — exclamou Takahiro, incrédulo.
Kay soltou uma risada seca, carregada de ironia.
— Você dizendo assim parece que estamos sendo cruéis com vocês. — comentou ele, levantando uma sobrancelha.
Lena deu um passo à frente, o olhar firme.
— Vocês não vão lutar contra esse Monarca. Só precisamos que atuem em nossa divisão para proteger o reino durante esta semana! — explicou ela, com um tom sério.
Kay assentiu e acrescentou:
— Não tenham medo. Temos do nosso lado um Ghoul capaz de sentir esses Ghouls mais fortes antes mesmo de eles chegarem ao reino.
Takahiro deu um passo para trás, os olhos estreitando-se em desconfiança.
— Tem um Ghoul do lado de vocês? Que tipo de piada é essa? — retrucou ele, quase em tom de acusação.
Kay ergueu uma mão, pedindo calma.
— Uma piada que não tem graça, então não serve para ser piada. Espere os outros esquadrões chegarem, e vamos explicar tudo para vocês. — disse ele, a voz tranquila, mas carregada de autoridade.
Takahiro continuou a encarar Kay, mas permaneceu em silêncio, processando o que acabara de ouvir. Algumas horas depois, a escuridão da noite envolveu a base, enquanto as hélices dos helicópteros finalmente cessavam, deixando os esquadrões desembarcarem.
— O que vamos fazer? — perguntou Lena, inquieta.
— Vamos recepcioná-los. Deixa o Kay quieto lá. — respondeu Joana, cruzando os braços.
— Parece que ele não quer sair de onde está! Melhor deixá-lo! — disse Yan, apoiando a decisão.
— Mas já está de noite! — insistiu Lena, preocupada.
— É melhor assim. — Joana deu de ombros, lançando um olhar em direção ao ponto onde Kay estava parado.
— Que viagem longa... — reclamou Nina, descendo de um dos helicópteros e esticando os braços.
Ryuji arregalou os olhos ao vê-la.
— Está brincando! Por que justo uma vice-capitã? — murmurou, impressionado.
O terceiro esquadrão, liderado por Momo e enviado pela Quarta Divisão, começou a se apresentar à Sexta Divisão.
— Só tem mulheres... — pensou Yan, analisando o grupo que desembarcava.
Nina, assumindo a liderança, deu um passo à frente e inclinou a cabeça em respeito.
— Fomos informadas sobre o Takemichi e sobre a situação que motivou o pedido de reforços. Eu sinto muito pela perda do capitão de vocês.
As soldados que a acompanhavam repetiram o gesto, curvando-se em sinal de respeito.
— Obrigada. — respondeu Joana, com um aceno breve. — Não esperava que alguém do seu nível viesse pessoalmente.
Nina sorriu levemente, embora seus olhos carregassem um peso que a traía.
— Quando a capitã recebeu a notícia sobre o Takemichi, ela ficou bastante abalada. Primeiro, chorou. Depois, ficou furiosa e saiu quebrando tudo. Mas logo voltou a ficar triste, jurando vingança por ele. Ela queria vir, mas, nessas condições, seria impossível deixar o reino desprotegido. Então, ela me enviou com o esquadrão da Momo.
Joana assentiu, compreendendo.
— Sei que sua capitã sempre admirou os outros capitães, mesmo o nosso, que estava abaixo do ranking dela. Ela também deve estar sofrendo.
Nina suspirou, sua voz carregada de experiência e resignação.
— Nesse trabalho, já vimos muitas mortes. Com o tempo, acabamos nos acostumando com a dor, mas isso não significa que não machuque quando perdemos alguém. A diferença é que aprendemos a seguir em frente. A capitã vai ficar bem, e acredito que vocês também conseguirão.
Joana apertou os punhos, sua expressão endurecendo.
— É verdade. Dói pensar que nunca mais veremos ele... Mas precisamos seguir em frente. Por ele, por nós e por todos que juramos proteger. Estamos tirando essa semana porque foi um pedido do Kay. Sabemos que a Mira e a Rem vão precisar disso também. E, quando voltarmos, quero ser tão forte que os Ghouls é que vão temer a nós, e não o contrário!
As palavras de Joana reverberaram no grupo, intensas e cheias de convicção. Os líderes dos esquadrões trocaram olhares, impressionados.
— "Essa fala... É a mesma que o Kay disse." — pensaram eles, analisando Joana.
Nina sorriu, encorajando-a.
— Entendo. Então, o fogo ainda está aceso! Por onde querem que comecemos?
Joana respirou fundo antes de responder.
— Por enquanto, comam algo e descansem. Nossos companheiros já voltaram para casa, então a base está meio vazia. Os reforços da Quinta Divisão já devem estar dormindo. Quase todos os quartos estão disponíveis. Levamos os pertences dos soldados para fora esta semana, então fiquem à vontade para escolher onde dormir.
Nina assentiu, mas não pôde deixar de notar algo estranho.
— Entendido. Mas... e aquela "estátua" parada ali? — perguntou, referindo-se a Kay, imóvel à distância.
— Ele está esperando a Mira voltar. É melhor deixá-lo. Agora vão comer antes que a comida esfrie! — respondeu Joana, afastando qualquer insistência.
Nina olhou para Kay com curiosidade, mas decidiu não insistir. Assim se deu a chegada dos reforços da Quarta Divisão.
Durante a madrugada, os reforços da Terceira Divisão também chegaram, sendo recebidos por Joana e Nina, que ainda estavam acordadas. Elas passaram as instruções para os recém-chegados antes de finalmente retornarem aos seus quartos.
Horas depois, já ao amanhecer, o som de outro helicóptero pousando quebrou o silêncio da base. Desta vez, ninguém foi recebê-los.