Tetsu no Chikara: Saigo no Kibō

Chapter 73: Capítulo 73: Julgamento!



Kay continuou comendo

— Não volte a comer sem dizer nada! — gritou Takemichi, claramente irritado

Kay continuou mastigando, o semblante distante, pensativo. Um sorriso em seu rosto, mas não era de alívio — era um sorriso carregado de preocupação.

"Isso é ruim. Se os ghouls começarem a se coordenar para atacar... Não seria apenas esta divisão, mas todas as outras que sofreriam perdas massivas. Mais baixas do que estamos preparados para lidar..." — pensava ele, enquanto levava mais uma colher de comida à boca.

Os soldados no refeitório estavam inquietos. O burburinho de antes deu lugar a um silêncio pesado, carregado de tensão. Mesmo os mais experientes não conseguiam esconder o desconforto. Kay: o homem que nunca recuava, que enfrentava ghouls com uma confiança imbatível. Agora, vê-lo tão imerso em pensamentos, claramente abalado com a ideia da evolução dos ghouls, era algo que deixava todos à beira do nervosismo.

— Não vai ter jeito, capitão. Você não tem escolha. — Kay inclinou-se ligeiramente para frente, o olhar fixo em Takemichi. — Se não recuperarmos os outros reinos perdidos, os ghouls vão continuar evoluindo mais próximos de nós. E quando isso acontecer, com certeza eles vão mudar a abordagem que estão tomando agora.

Takemichi cruzou os braços, a expressão carregada de irritação.

— Já falei que não é tão simples assim! — retrucou. — E que abordagem você acha que esses ghouls estão tomando?

Kay respirou fundo, a voz carregada de seriedade:

— Estão deixando os humanos se reproduzirem... para terem o que comer no futuro.

Um silêncio desconfortável tomou conta do ambiente.

— Você ouviu bem, Takemichi. No sonho que tive, nós, humanos, não passávamos de gado preso nessas muralhas.

Os olhos de Takemichi estreitaram, mas ele não interrompeu.

— E faz sentido. Se os ghouls quisessem, já teríamos sido todos devorados há muito tempo. Mas por que não fizeram isso? A resposta é simples: há um ou mais ghouls inteligentes ordenando que fiquem longe das muralhas habitadas. Não são todos que obedecem, por isso ainda sofremos ataques. Mas... — Kay fez uma pausa, como se quisesse escolher bem as palavras. — E se, em outra muralha, os ghouls resolvessem sair para atacar uma população humana? Quantos morreriam antes que pudéssemos eliminá-los? Se continuarmos nesse ritmo lento, vamos perder a oportunidade de atacar primeiro, antes que eles decidam nos eliminar completamente.

Takemichi balançou a cabeça e soltou uma risada seca.

— Gado em reprodução? Só alguém completamente louco pensaria nisso!

Kay ignorou o tom de deboche, a voz firme:

— Esqueça essa ideia de tomar as muralhas só para consertá-las. Vamos recuperá-las dos ghouls e, no futuro, com mais recursos, reconstruímos o que for necessário.

— Já te disse várias vezes... — Takemichi começou, mas foi interrompido.

— Vamos! — Kay o cortou. — E, se quer algo mais garantido, peça ajuda para as outras divisões!

Takemichi respirou fundo, tentando controlar o tom.

— Você é bem irritante, sabia?

— Não. Eu sou realista. — Kay levantou-se, a postura resoluta. — Obrigado pela comida.

Ele pegou a bandeja e sua garrafa, saindo do refeitório sem olhar para trás.

"Então é isso que ele quis dizer com estar estranho... Ele está com medo?" — pensou, os olhos seguindo Kay enquanto ele se retirava.

A cena muda alguns minutos depois. Ravena, com o celular na mão, guardou-o rapidamente no bolso e se aproximou de Kay, que estava deitado no pátio, olhando para as estrelas.

— Não vai dormir? — perguntou Ravena, aproximando-se dele.

— Não, só estou pegando um pouco de ar. — respondeu Kay, sem desviar o olhar das estrelas.

Ravena se sentou ao lado dele, ainda observando o céu.

— Está preocupado com os ghouls inteligentes? — ela perguntou, a voz suave, mas carregada de uma leve tensão.

— Eu só estou pensando... aquele sonho ainda me irrita. — Kay falou, a expressão séria. — Os ghouls inteligentes são uma ameaça, mas sozinhos não acho que sejam tão perigosos assim.

— Você acha que eles são mais fortes que o mini-ghoul? Se forem, sem dúvida, serão uma ameaça real. — Ravena disse, com um tom preocupado.

— De fato, vai dar trabalho... — Kay respondeu, pensativo.

— Você não tem medo? — Ravena perguntou, mais uma vez virando o rosto para encará-lo.

Kay olhou para ela, um brilho de preocupação nos olhos.

— Tenho... ainda mais agora. — ele disse, a voz carregada de um peso novo. — Agora será mais gente que vai ficar triste se eu morrer, e mais gente que vai me deixar triste se morrerem.

Ravena ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras dele. Finalmente, ela falou, com uma sinceridade que vinha do fundo de seu coração:

— Nossos companheiros? Eu me sinto do mesmo jeito.

Kay, tocado, levantou a mão e tocou suavemente o rosto dela.

— Especialmente vocês. — ele disse, a voz firme, mas suave.

Ravena segurou a mão dele, ainda no seu rosto, e olhou para ele com um olhar sério e resoluto.

— Depois que pagar sua sentença, eu te ajudarei a recuperar os outros reinos, se for a sua vontade. — Ravena falou, as palavras carregadas de um compromisso silencioso.

Kay se sentou ao lado dela, segurando suas mãos.

— Agradeço, mas no momento, esse não é o desejo do capitão. — ele disse, olhando diretamente nos olhos dela. — Mas quando a hora chegar, lutaremos lado a lado, e eu contarei com seu apoio.

Ravena sorriu suavemente, uma expressão de compreensão e aceitação.

— Eu agradeço por ter recuperado Mineford, meu antigo lar. Aceite isso como agradecimento. — Ravena disse, antes de, de forma inesperada, beijá-lo.

Kay ficou surpreso. Ravena se afastou rapidamente, corando levemente, seu rosto tingido de um rubor suave.

— Então... é assim que é ser beijado de surpresa? — Kay pensou, o coração acelerado. — Agora entendo por que as duas ficaram envergonhadas...

Ravena, ainda corada, olhou para ele, tentando esconder a timidez com um sorriso nervoso.

— Por que está em silêncio? Diga alguma coisa, está me deixando ainda mais envergonhada! — ela disse, claramente desconfortável com o silêncio de Kay.

— Eu só fiquei surpreso. — Kay respondeu, um sorriso tímido surgindo em seu rosto.

— Foi meu primeiro beijo... peço desculpas se não fiz direito, como as garotas! — Ravena disse, um pouco envergonhada.

Kay se aproximou mais do rosto dela. Ravena não recuou e fechou os olhos, aceitando o que parecia ser inevitável. Kay a beijou suavemente. A cena muda para alguns minutos depois, no quarto dele.

— Ei, Slayer, me ensina a ficar invisível? — Kay perguntou, animado.

— De onde veio isso? Quando você descobrir uma habilidade dessas, me ensina também, porque as pessoas não ficam invisíveis! — disse Slayer, intrigado.

— Você sabe aquela habilidade de ficar imperceptível para as pessoas! — Kay questionou.

— Invisível? Isso não é magia, Kay... — Slayer começou a explicar com um tom descontraído. — É só não ser interessante o suficiente para ser notado. As pessoas só percebem o que chama atenção. Se você parar de fazer barulho, de se destacar... elas simplesmente te ignoram.

— Como assim? — Kay perguntou, claramente confuso.

— A chave é, basicamente, a percepção humana. Mova-se de maneira que evite chamar atenção, mantendo movimentos suaves e naturais. Assuma posturas que emitem mediocridade, evitando destaque. Explore os pontos cegos psicológicos. Por exemplo, se há muita coisa acontecendo ao redor, as pessoas não vão perceber um indivíduo que "parece estar apenas de passagem".

— Entendo... Agora, olhando como vocês dois faziam, consigo entender. Obrigado! — Kay disse, antes de se levantar e sair do quarto.

Sky, observando a conversa, franziu a testa.

— Pra que ele quer isso? — ele perguntou, claramente curioso.

— Sei lá! Mas aumentar as habilidades que temos é vantajoso para o exército. — Slayer respondeu com um sorriso enigmático.

— Ele vai treinar agora? — Kratos perguntou, perplexo.

— A ordem foi dada. Ele não vai quebrar com a mãe da Mira aqui. Parece que ele carrega um enorme respeito por ela. — Slayer disse, deitando-se na cama.

— Ela que o treinou até dar para ver certas semelhanças nas atitudes dos dois! — Sky comentou, com uma leve provocação no tom.

— Não deixa o capitão ouvir isso! — Slayer alertou, fechando os olhos.

— Esqueçam o que eu disse! — Sky apressou-se em corrigir.

— Claro. — Kratos e Slayer responderam em uníssono.

— Então é amanhã o julgamento dele? — Kratos perguntou, deitando-se na cama.

— Todos na base já sabem o resultado. As condições estão ao lado do Kay. Ele deve passar algum tempo... — Slayer comentou, olhando pensativamente para o teto.

A cena muda para a sala de julgamento, dominada por paredes de pedra escura e iluminada por luz fria que emanava de telas gigantes. Nessas telas, os capitães das seis divisões e figuras importantes de vários reinos, como reis, rainhas e generais, observavam atentamente, conectados através de videochamadas. A tecnologia avançada transmitia a cena do julgamento para todos aqueles que precisavam estar presentes, mas não podiam estar fisicamente na sala. Guardas armados, de pé e em posições estratégicas, vigiavam cada movimento, enquanto Kay, algemado e incapaz de se mover, se encontrava no centro, sendo observado por todos. O peso do ambiente era esmagador, e ele sabia que sua vida estava prestes a ser decidida ali, sob o olhar atento e impassível de todos.

— Ele vai ficar preso por tempo indeterminado, com permissão para sair apenas em missões oficiais de extermínio fora do reino, após a autorização do rei, do chefe da guarda imperial, do capitão Takemichi e a minha. — o juiz concluiu, seu tom grave e imutável.

"Eu já esperava esse resultado, mas está tudo indo rápido demais... Por que? Eles nem debateram sobre o assunto. Os únicos que falaram algo aqui foram o juiz e o capitão Takemichi!" pensou Kay, enquanto seu olhar permanecia fixo no chão

— Estou de acordo com isso, mas eu gostaria de acrescentar uma condição! — disse o capitão Kenzo da segunda divisão, interrompendo o silêncio que dominava a sala.

— Imaginei que alguém diria isso. Também quero propor uma condição! — disse Renji, capitão da Terceira Divisão, sua voz firme ecoando pela sala.

— Acho que imagino o que é, então proponho o mesmo! — declarou Yumi, capitã da Quarta Divisão, com um brilho de determinação no olhar.

— Sim! Também desejo isso! — Haruki, capitão da Quinta Divisão, adicionou com um aceno vigoroso.

A sala mergulhou em um silêncio carregado de expectativa.

— Qual seria a proposta de vocês? — exclamou o juiz, quebrando o silêncio.

— Gostaria que ele pudesse realizar na minha divisão o mesmo treinamento que fez com a Sexta Divisão para liberar o potencial máximo dos trajes! — respondeu Kenzo, capitão da Segunda Divisão, com convicção.

— Esse também é o meu desejo! — concordaram os outros capitães em uníssono, suas vozes reverberando como trovões.

O juiz voltou-se para o único capitão que ainda não havia se manifestado.

— E quanto ao senhor, Capitão Julius? — indagou, olhando fixamente para ele.

— Eu não o desejo no meu reino. Podemos acabar logo com esse julgamento? — Julius retrucou com indiferença, um ar desinteressado estampado em seu rosto.

O juiz manteve a calma:

— O senhor deve estar muito ocupado!. Capitão Takemichi como responsavel por esse soldado, gostaria de ouvir sua opinião.

Takemichi ergueu o olhar, a seriedade em seus olhos refletindo sua responsabilidade.

— Todos aqui já devem ter recebido as informações que descobrimos ontem, sobre o ghoul capturado. É vantajoso para a humanidade que nossos subordinados tenham maior capacidade de luta. Estou de acordo com o treinamento, mas com condições: que minha vice-capitã e mais alguns soldados acompanhem este soldado, e que não o sobrecarreguem. Como capitão, vejo valor em suas habilidades e quero que ele esteja pronto para lutar assim que necessário.

— Não vejo problema nenhum nisso! — disse Yumi, imediatamente.

Os demais capitães assentiram em aprovação.

— Alguém é contra esta decisão? — perguntou o juiz, sua voz reverberando pela sala.

O silêncio dos presentes foi a única resposta.

— Quanto tempo é necessário para completar o treinamento? — questionou o juiz, voltando-se para Kay.

Kay ponderou por alguns instantes, memórias de sua última batalha passando por sua mente como um flash — o momento em que liberou sua intenção assassina contra o mini-ghoul.

— Depende da quantidade de soldados na base — respondeu ele. — Consigo treinar uns duzentos soldados ao mesmo tempo, mas, devido ao risco de algo sair errado, prefiro reduzir para 150 soldados por minuto.

Um silêncio atônito tomou conta da sala diante da declaração.

— Esse é o Kay! — disse Yumi, impressionada.

— Podemos concluir que você pode treinar todas as divisões em menos de um mês? — perguntou o juiz.

— Posso sim, mas gostaria de impor uma condição — disse Kay, seus olhos brilhando com determinação.

— Você não está em posição de impor nada! — retrucou Takemichi, sua voz carregada de autoridade.

— Espera! Qual seria a condição? — o juiz interveio, curioso.

— É desvantagem para mim permanecer preso. Se o treinamento for concluído com sucesso, peço que me concedam liberdade para retornar à minha divisão — Kay declarou, encarando o juiz com firmeza.

— Infelizmente, o tempo seria curto pelo crime que cometeu — disse o juiz, pensativo.

— Nesse caso, permita que alguns dos meus companheiros me visitem enquanto estiver preso — pediu Kay, com um tom mais moderado.

— Isso pode ser permitido — decidiu o juiz. — Então, estou de acordo com seus termos.

— Alguém contra? — exclamou o juiz.

Mais uma vez, o silêncio prevaleceu.

— Declaro este julgamento encerrado. Levem-no! — anunciou o juiz, batendo o martelo com força.

Dois guardas desprenderam as correntes e conduziram Kay, ainda algemado, para fora da sala.

— Com licença — disse o Capitão Julius, sendo o primeiro a encerrar a chamada.

— Ele continua impaciente. Bom, de qualquer forma, estou ansiosa pelo treinamento! Obrigada pelo seu julgamento! — disse Yumi antes de sair.

— É o meu trabalho — respondeu o juiz.

Com o julgamento concluído, a cena mudou para alguns minutos depois.

— Entendo... Então foi como imaginamos — disse Joana, analisando as informações.

— Sim, ele não voltará para esta base por dois ou mais meses, mas participará das missões de extermínio. Além disso, Mira recebeu permissão para visitá-lo e acompanhá-lo durante as viagens de treinamento — confirmou Takemichi.

— Obrigada, pai! — exclamou Mira, com um sorriso radiante.

— Não me agradeça. Não faremos missões de extermínio por um tempo. Continuaremos garantindo segurança para o pessoal desenvolver Mineford. Mira, Sarah e Rem, vocês três vão acompanhar seu líder no treinamento. Mantenham-no focado apenas nos treinos, para que não precisemos de outro julgamento! — ordenou Takemichi, com autoridade.

— Certo! — responderam os soldados em uníssono.

A cena muda para uma cela na prisão, onde o ambiente úmido e austero é iluminado por uma única lâmpada fraca. As paredes de pedra revelam a frieza e a hostilidade do lugar. No centro, duas camas simples com colchões finos estão dispostas, separadas por um pequeno espaço que mal permite movimentação.

Kay, algemado e com uma expressão tranquila, está observando o homem à sua frente, cujo olhar desconfiado o examina como um predador.


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