Chapter 64: Capítulo 64: Não vai sair impune!
Fernanda o encarou com um olhar cortante, a autoridade em sua voz deixando claro que não estava ali para discussões:
— Me deixem passar!
— Se ele tentar qualquer gracinha, vamos abrir fogo! — alertou outro guarda, a tensão evidente no tom.
— Ele não vai. — Fernanda passou entre eles, a postura irredutível, e entrou no círculo formado pelos soldados ao redor de Kay.
Kay permanecia sentado no centro, como uma rocha inabalável, ignorando o caos ao seu redor. Fernanda parou à sua frente e puxou a gola do traje e ao ver dentro ela olhou para ele com um olhar cheio de reprovação.
— Seu idiota... olha o estrago que fez no castelo! E o traje? Está um desastre! — disse ela, aproximando-se e inspecionando as placas superaquecidas do equipamento.
Kay ergueu o olhar preguiçoso para ela, como se ignorasse completamente o peso da situação.
— Estamos com fome. — Ele se levantou lentamente, sem pressa.
O movimento foi suficiente para fazer os guardas ficarem ainda mais tensos. Eles miraram diretamente na cabeça dele, os dedos prontos para puxar os gatilhos.
Fernanda se levantou rapidamente, colocando-se entre Kay e as armas apontadas.
— Se acalmem! — ordenou ela, a voz alta o suficiente para silenciar o burburinho ao redor. — Ele não está fugindo!
Os guardas hesitaram, mas mantiveram as armas erguidas. O ar parecia mais pesado com a tensão crescente. Fernanda lançou um olhar severo para Kay, que continuava imóvel.
Kay suspirou profundamente, como se a tensão ao redor fosse um inconveniente menor, e começou a retirar o traje ali mesmo.
Fernanda observava cada movimento, ainda em alerta, mas sem demonstrar hesitação. Quando Kay entregou o traje, a espada e a SCAR para ela, manteve apenas o bastão firme em sua mão.
— Está vendo? Ele não está mais com o traje. Ele não planeja fugir! — declarou Fernanda, virando-se para os guardas. — Abaixem as armas!
Um guarda de patente superior deu um passo à frente, o semblante duro como pedra.
— Leve o traje e as armas para longe dele, e manteremos nossas armas abaixadas! — ordenou ele.
Fernanda lançou um olhar breve para Kay, como se questionasse suas intenções, mas logo saiu com os equipamentos. Carregando o traje, a espada e a SCAR de Kay, ela caminhou rapidamente até o helicóptero estacionado no quintal, depositando tudo com cuidado no interior da aeronave. Quando retornou, estava com as mãos vazias e uma expressão resoluta.
— Pronto. — Sua voz era firme, mas exalava um leve cansaço.
Os guardas, relutantes, começaram a abaixar as armas, mas mantiveram o cerco ao redor de Kay. A atmosfera continuava pesada, carregada de desconfiança.
Fernanda aproximou-se novamente de Kay, o encarando com um olhar que misturava frustração e curiosidade.
— Você invadiu o castelo, matou um guarda e causou destruição de propriedade. Por que fez isso? — exclamou, a voz elevada refletindo sua indignação.
Kay a olhou indiferente.
— Ele feriu a Emília.
Fernanda ficou imóvel por um instante, o nome da princesa parecendo ecoar em sua mente.
— Cadê a princesa? — perguntou, agora mais aflita.
— Está no quarto, com uma empregada. — A resposta de Kay foi direta, mas carregada de uma intensidade que Fernanda não podia ignorar.
— Pode explicar melhor? — perguntou Fernanda, cruzando os braços, a voz carregada de impaciência e expectativa.
Kay se aproximou lentamente, inclinando-se para sussurrar algo no ouvido dela.
Fernanda recuou abruptamente, o rosto pálido de puro pavor.
— Não! — exclamou, a voz quase falhando.
Kay suspirou, como se carregasse o peso do mundo nos ombros.
— Me desculpe, mas eu acompanhei tudo... até a chamada cair. Eu ouvi tudo, Fernanda. Não aguentei. Mas, honestamente, não esperava que ele fosse morrer com apenas um golpe. — Sua voz era grave, mas havia uma ponta de resignação, como se ele já tivesse aceitado as consequências de seus atos.
Fernanda o encarou, incrédula, e elevou a voz:
— Está arrependido?
Kay ergueu o olhar, direto e firme.
— Ele morreu sem sentir dor. Então, sim, estou arrependido... mas agora ele não pode mais ferir a Emília. E, por isso, não me importo.
Os guardas ao redor apertaram os punhos, claramente irritados, as expressões duras refletindo seu desprezo.
— Não foi isso que ele quis dizer! — Fernanda tentou intervir, gesticulando para tentar apaziguar a situação.
Kay abriu a boca, pronto para responder, mas foi interrompido por um som estrondoso.
O barulho inconfundível de hélices cortando o ar encheu o ambiente.
— Eles chegaram! — disse Fernanda, o alívio e a tensão misturados em sua voz.
Quem? exclamou kay
O helicóptero sobrevou a cidade e foi pousando no castelo.
Joana e Mira foram as primeiras a descer do helicóptero, seguidas pelos recrutas, seus passos firmes e decididos ecoando pela área. A tensão no ar era palpável. Os guardas abriram caminho para as duas, reconhecendo a autoridade que elas emanavam.
— Cadê ele? — exclamou Mira, com uma expressão que misturava desdém e raiva.
Fernanda olhou ao redor, um tanto desconcertada.
— Está aqui! — disse ela, apontando para o lado.
Mas Kay não estava mais onde deveria estar. Ele havia desaparecido. Os guardas trocaram olhares confusos, claramente sem entender o que havia acontecido. Mira, irritada, entrou mais para dentro da roda formada pelos soldados. Seus olhos logo localizaram Kay, agachado e tentando não chamar atenção.
— Achou! — disse Kay, levantando as mãos num gesto de rendição, visivelmente nervoso.
Antes que pudesse reagir, Mira avançou e desferiu um tapa poderoso em seu rosto, lançando-o para longe como uma boneca de pano. Kay caiu no chão com força, um zumbido nos ouvidos.
— Seu idiota! O que você fez?! — gritou Mira, com os olhos faiscando de irritação.
Um dos guardas murmurou com desprezo:
— Foi assim que ele matou nosso companheiro...
De longe, Thais gritou:
— Ei, Kay, você morreu?
Ainda deitado, Kay respondeu com a voz arrastada:
— Morri...
Joana se aproximou, cruzando os braços.
— Já sabemos o que aconteceu aqui? — perguntou ela com firmeza, olhando para Fernanda.
Fernanda suspirou, relutante, antes de responder:
— Sim. O Kay me contou. Segundo ele, o guarda... bom, ele desonrou a princesa. E Kay ouviu tudo enquanto estava na ligação com ela. Ele veio para salvá-la, mas... acabou matando o desgraçado. Ainda não ouvi o lado da princesa, então não posso confirmar nada.
— O Kay não mentiria sobre isso! Nem por brincadeira! — exclamou Mira, ainda indignada. — O que vamos fazer?
Joana foi direta:
— Ele feriu e matou um oficial. O caso será levado ao Conselho, que decidirá a punição. Até lá, Kay será detido pelo exército.
Thais, preocupada, protestou:
— Pelo Conselho? Isso é sério?
— A Emilia pode reduzir a sentença dele, certo? — perguntou Mira, com esperança na voz.
Fernanda balançou a cabeça.
— O testemunho dela será importante, mas... até agora, ela não apareceu.
Kay, ainda no chão, interveio com sua voz despreocupada:
— Ela está com medo. Vão encontrá-la. Eu prometo que fico quieto aqui.
Mira o observou com uma mistura de preocupação e culpa. "Será que ele se machucou de novo?", pensou. Ela se aproximou, ajoelhando-se ao lado dele.
— Só está um pouco inchado e com a marca da sua mão. Não tô ferido. Vai lá — disse Kay, notando o olhar dela.
Mira desviou os olhos, envergonhada.
— Me desculpa... Você ajudou a Emilia e eu te bati.
Kay abriu um sorriso irônico.
— Tá tudo bem, mas se quiser compensar, tem uma coisa que eu quero investigar depois.
Mira arqueou uma sobrancelha.
— Não sei se você vai ficar livre depois disso tudo. O que quer investigar?
Kay respondeu com um brilho desafiador no olhar:
— Não é bem investigar. Quero matar alguns ghouls. Mas agora, cuida da Emilia. Se eu for até ela, os guardas vão atrás. Melhor ela não me ver hoje.
Mira hesitou, mas finalmente assentiu.
— Tudo bem. Eu volto logo. Não se mexa.
— Tá. — respondeu ele, deitado como se estivesse relaxando num dia comum.
Mira se afastou, mas antes de sair, questionou um dos guardas:
— Posso ver a princesa?
O oficial de patente alta respondeu sem hesitar:
— Só com permissão da família real.
Kay interrompeu, mexendo no celular e finalizando uma ligação:
— Não precisa se preocupar. A Emilia permitiu. Leve a Fernanda, a Joana e a Alpha 1 com você. Parece que ela quer conhecê-las.
O oficial estreitou os olhos, desconfiado:
— Ligou para a princesa?
Kay apontou preguiçosamente para cima.
— Olhem a janela do quarto dela.
Todos ergueram os olhos e viram a empregada acenando da janela quebrada. O cenário ficou em silêncio por um momento, até que o oficial deu um leve suspiro e ordenou:
— Muito bem. Procedam com cuidado.
— Certo! — disse Mira, batendo continência com um brilho determinado nos olhos.
Ela se afastou, deixando os soldados e guardas ao redor observando Kay com olhares curiosos e desconfiados. Ele, no entanto, parecia alheio à tensão no ar. Pegou o comunicador e fez outra ligação.
— Oi, Rem! — chamou ele, com um tom casual.
— Kay? Agora eu devo te chamar de genro? — exclamou Rem do outro lado da linha, com uma voz levemente divertida.
— Continua me chamando normal, por favor. — Kay suspirou, esfregando a nuca.
— Eu fico magoada assim! Você tem meu número, mas nunca me liga. Só minha filha para matar a saudade! — reclamou Rem, fingindo um choro exagerado.
— Tá, tá... sofreu algum ataque? — perguntou Kay, ignorando o drama.
— Sim! Dois só este mês, mas nada que me faça aquecer de verdade. — A voz de Rem ficou mais séria, mas ainda tinha um tom desafiador.
— Vamos entrar pelo outro lado. Aconteceram umas coisas aqui, então pode demorar. Nem sei se vão deixar a gente ir. — Kay parecia hesitante, observando o ambiente ao redor.
— Você me ligou pra informar algo que nem sabe se vai acontecer? — Rem bufou, claramente impaciente.
— Acho que é isso... — admitiu Kay, rindo baixinho.
— Fala a verdade! Você estava com saudade e ligou só para disfarçar com outro assunto, né? — acusou Rem, soltando uma gargalhada animada. — Mas não adianta, Kay! Eu tenho marido e até uma filha. Não vai dar!
— Seu nome é Maria? — provocou Kay, com um sorriso zombeteiro.
— Maria? Por quê? — perguntou Rem, confusa.
— Porque você tá cheia de graça! — respondeu ele, rindo alto.
— Nossa... — Rem respondeu com desdém. — Vocês vão mesmo vir aqui ou foi só para jogar conversa fora?
— Eu não sei. Tô em uma encrenca agora. Vou tentar conseguir a permissão da vice-capitã. — Kay olhou para Mira ao longe, que falava com outros recrutas.
— Vice-capitã? Uau, vocês estão indo muito bem! — elogiou Rem.
— Sei não... sinto que só estou causando problemas para a Mira. — Kay suspirou, a voz carregada de sinceridade.
— Isso é certeza! — Rem riu. — De qualquer forma, antes de virem, me avisem. — E encerrou a chamada.
Kay guardou o comunicador, balançando a cabeça.
— Adoro o jeito que vocês são sinceras... — murmurou para si mesmo antes de se aproximar de um guarda.
— Quanto tempo até essa tal reunião com o conselho? — perguntou Kay, direto.
— Se afasta, garoto! A reunião vai levar dias para acontecer. — O oficial cruzou os braços, tentando intimidá-lo.
— Entendo... — disse Kay, virando-se para os recrutas. — Vamos matar ghouls! Preparem tudo para partirmos assim que elas voltarem.
— Você não pode sair daqui! — alertou o oficial, erguendo a voz.
— Não me importo se os guardas quiserem vir também, mas só não atrapalhem a missão! — respondeu Kay, ignorando a ordem.
— Não é essa a questão! — insistiu o oficial.
— De fato, o que decidirem fazer, o capitão vai me passar depois. Meu pessoal vai matar uns ghouls. Se quiserem vir, fiquem à vontade. — Kay deu de ombros e se afastou.
A cena muda
Emilia estava encolhida na cama, o olhar perdido e uma tristeza evidente no rosto.
— Dá até vergonha encontrar vocês depois do que aconteceu... — murmurou, a voz quase um sussurro.
— Eu lamento que você tenha passado por isso. Como soldado, sinto-me envergonhada que algo assim tenha acontecido com uma pessoa inocente. — Joana abaixou a cabeça, o peso da culpa evidente.
— Eu não culpo os soldados. Sei que foi obra daquele homem. Para ser sincera, estou com medo... mas sei que não posso ficar assim para sempre. — Emilia respirou fundo, tentando reunir coragem.
— Mesmo sendo tão jovem, você é forte. Acho que agora entendo o que o Kay viu em você. — Mira sorriu, tentando encorajá-la.
— Eu estava chorando, mas fiquei feliz quando ele veio. Ele veio salvar uma amiga, não uma princesa. Por isso ele estava aqui sem máscara. — Emilia esboçou um pequeno sorriso.
— Você disse que queria nos ver? — Ravena perguntou, mudando de assunto para aliviar o clima.
— Meu irmão não vai sair impune pelo que fez, mesmo por ter me ajudado. Os outros reinos não vão se importar que foi uma princesa salva. Ele não vai morrer, mas vou tentar reduzir a pena para algo mais leve. Não posso prometer mais do que isso. — A voz de Emilia tremia levemente, mas havia determinação em suas palavras.
— Ele não morrendo já é o que importa. — Mira assentiu.
— Ele pode ficar meses... ou até a vida toda preso lá. — Joana parecia mais cética.
— Se ele passar uma semana sem café lá, ele morre de fome. — Mira tentou aliviar o clima, rindo.
— Do jeito que ele é preguiçoso, acho que literalmente! — brincou Fernanda.
— Mesmo sendo da família real, não tenho muita voz no reino do meu pai. Mas vou conversar com eles para pelo menos permitir visitas diárias. — Emilia abaixou a cabeça, triste.
— Obrigada. — Mira sorriu para ela.
— Antes de irem... podemos tirar uma foto juntas? — Emilia pediu, envergonhada.
— Claro! — responderam todas.
Emilia sorriu. A cena muda.
— Eles deixaram você vestir o traje novamente? — exclamou Fernanda, com uma expressão surpresa.
— Sim, estamos indo matar ghouls! — disse Kay, com um olhar feroz. — Como ela estava? — perguntou, se aproximando do helicóptero.
— Ela é uma garota persistente, ela vai ficar bem! — disse Ravena, com um sorriso confiante.
— Entendo... então eu a julguei errado! — disse Kay, com um ar de arrependimento.
— Não... ela ainda está com medo, mas está tentando se manter forte! — disse Mira, com um olhar preocupado.
— Entendo... — disse Kay, acenando para Emilia que estava na janela.
Emilia acenou de volta, seu sorriso irradiando uma força silenciosa.
— Vamos indo! — disse Kay, com um tom de urgência.
Os recrutas entraram no helicóptero, preparados para a batalha.
— Vou perguntar de novo, vocês dois vão mesmo conosco? — exclamou Kay, com um olhar desafiador.
— Foi ordem do nosso chefe para dois dos guardas ficarem de olho em você! — disse um dos guardas, com uma expressão rígida.
— Seja testemunha, Fernanda! O quinto esquadrão está indo para uma missão de investigação e extermínio! — disse Kay, com um sorriso de quem já sabia o que fazer.
— Entendo. — disse Fernanda, entrando no helicóptero com um olhar de determinação.
— O que está fazendo? — exclamou Joana, olhando para Kay.
— Ele nunca usou investigação nas missões... parece interessante, então eu vou também! — disse Fernanda, com um brilho nos olhos, disposta a seguir Kay até o fim.
— Aqui você deveria dizer alguma coisa! — disse Joana para Mira.
— Ela vai ficar bem. Eu não sei onde estão esses ghouls, mas ela pode ficar no vilarejo! — respondeu Mira.
— Preciso de uma corda extremamente longa, se possível de ferro! — exigiu Kay, com firmeza.
— Eu vou tirar da bun... entendo, vamos parar no instituto. Posso conseguir isso! — disse Fernanda, visivelmente determinada.
— E eles? — exclamou Kay, olhando para os outros soldados com intensidade.
— Retornem para a base, o capitão e os outros já estão voltando! — ordenou Fernanda, com autoridade.
— Certo! — respondeu o vice-líder do segundo esquadrão, dando um sinal de aprovação.
Kay e o restante entraram no helicóptero, enquanto os outros soldados se dirigiam ao outro.