Tetsu no Chikara: Saigo no Kibō

Chapter 58: Capítulo 58: De volta para o passado!



Kay estava desmaiado, mas sua mente não encontrava descanso. No vazio de sua inconsciência, um fragmento do passado emergiu como um eco distante, mas incrivelmente vívido.

Ele era apenas uma criança naquela época.

— Vamos voltar, Kay? — pediu Mira, sua voz trêmula enquanto olhava ao redor com nervosismo. O silêncio crescente da floresta parecia sufocante, cada sombra projetada pelas árvores ganhando contornos assustadores.

— Ele deve estar por aqui... Eu consigo sentir! — respondeu Kay, com os olhos brilhando de excitação. Sua respiração estava irregular, quase frenética, como se estivesse diante de uma grande descoberta.

Mira franziu o cenho, o medo transbordando em sua voz.

— O que você está caçando?!

Kay não respondeu. De repente, ele parou bruscamente, e Mira, distraída, colidiu com as costas dele.

— Shh! — Ele tampou a boca dela com uma das mãos, virando o rosto para encará-la. Seus olhos estavam sérios, quase ferozes, como se implorassem por silêncio absoluto.

O coração de Mira disparou. Ela acenou com a cabeça, com lágrimas surgindo nos cantos dos olhos. Kay soltou sua boca lentamente e colocou um dedo sobre os próprios lábios, reforçando o pedido de silêncio.

Ele puxou o pequeno arco que carregava e encaixou uma flecha. A expressão de Kay mudou; o menino brincalhão deu lugar a alguém focado, metódico. Ele avançou com cuidado, cada passo tão silencioso quanto possível, enquanto Mira observava, paralisada entre a curiosidade e o medo.

Ela olhou ao redor, tentando ver o que ele via, mas tudo o que enxergava eram arbustos e árvores.

"O que ele está caçando?" pensava, sentindo o suor frio escorrer pela testa.

Kay se ajoelhou, prendendo a respiração. Ele esticou a corda do arco, seus olhos fixos em um arbusto que se mexia suavemente. O tempo parecia parar. Então, ele soltou a flecha.

O som seco do disparo cortou o ar, seguido por um estalo abafado no arbusto. O movimento cessou.

— Acertei! — gritou Kay, com um sorriso triunfante. Antes que Mira pudesse detê-lo, ele correu na direção do arbusto, movendo as folhas com pressa.

— Kay, espera! — chamou Mira, hesitante, mas ele já estava fora de alcance.

Kay mergulhou no arbusto, remexendo com as mãos até puxar sua "caça". Ele se levantou, segurando um coelho abatido pelas orelhas, um sorriso de orelha a orelha estampado em seu rosto.

— Mira, vamos comer juntos! — exclamou Kay, levantando o animal como se fosse um troféu.

Mira recuou, horrorizada. Lágrimas desceram por seu rosto enquanto ela balançava a cabeça freneticamente.

— Idiota! Eu vou contar pra minha mãe! — gritou, virando-se e correndo em disparada.

— O quê?! Não vai querer? — Kay gritou de volta, confuso.

— Não! — gritou ela, a voz ecoando pela floresta enquanto desaparecia entre as árvores.

Kay coçou a cabeça, olhando para o coelho em suas mãos.

— Então eu vou comer sozinho... Melhor fugir antes que a mãe apareça! — disse para si mesmo. Sem perder tempo, ele jogou o coelho por cima do ombro e correu para longe, desaparecendo na floresta.

Mira entrou correndo pela porta da casa, soluçando de tanto chorar. O barulho de seus passos apressados chamou a atenção imediata de todos.

— O que meu filho fez dessa vez?! — exclamou a mãe de Kay

— Tia, o Kay... Ele... Ele matou um coelho! E... E agora quer comer ele! — disse Mira entre soluços, com o rosto ruborizado e lágrimas escorrendo pelo rosto.

A mãe de Kay suspirou, colocando as mãos na cintura, enquanto balançava a cabeça lentamente.

— Esse garoto não toma jeito! — murmurou, revirando os olhos.

Da cozinha, Rem, escutava a cena e não conseguiu conter uma risada divertida.

— Deixa ele, Mira. Venha almoçar, filha. — disse Rem, enquanto mexia em uma panela, o aroma da comida se espalhando pela casa.

— Mas... Mas ele... — Mira tentou protestar, ainda entre lágrimas, sua indignação evidente.

A mãe de Kay se abaixou até ficar na altura dos olhos da menina e enxugou gentilmente as lágrimas de seu rosto com um pano de prato.

— Mira, minha querida, ele vai acabar com uma baita dor de barriga e vai passar o dia todo no banheiro! — disse ela, com um tom reconfortante e um pequeno sorriso nos lábios. — Daqui a pouco nós vamos buscar ele, tá bom? Agora, que tal comermos a comida maravilhosa que sua mamãe preparou?

Mira fungou, hesitante, mas a ternura na voz da mãe de Kay e o aroma acolhedor da refeição ajudaram a acalmá-la.

— Tá bom... — respondeu Mira, finalmente cedendo, enquanto a mãe de Kay a guiavam para a mesa.

Na floresta, o fogo crepitava suavemente, lançando sombras vacilantes sobre o rosto pálido de Kay. Ele estava caído ao lado da fogueira, o galho improvisado que usara como espeto ainda em sua mão. A carne, completamente assada, tinha uma mordida marcada, mas agora estava caída no chão ao lado dele.

Próximo à boca de Kay, uma mancha de sangue tingia a terra. Ele havia vomitado antes de perder os sentidos, e seu rosto estava coberto de suor, o corpo imóvel.

Enquanto isso, na casa de Rem, Mira estava inquieta à mesa.

— Ele ainda não voltou! — disse Mira, ansiosa, o rosto preocupado enquanto tamborilava os dedos no tampo da mesa.

A mãe de Kay respirou fundo, tentando esconder sua irritação.

— Esse garoto... só sabe causar problemas! — disse ela, colocando os talheres de lado. — Obrigada pela comida, Rem, mas eu vou lá buscar ele.

Rem riu suavemente, apoiando as mãos na cintura.

— Eu vou com você. Vai que ele inventou mais alguma coisa dessa vez.

A mãe de Kay negou com um gesto firme.

— Não precisa. O cheiro da fogueira que ele fez está bem claro para mim. Sei exatamente onde encontrá-lo.

Rem suspirou, cruzando os braços.

— Que inveja desse seu sentido aguçado! Se fosse comigo, eu ia acabar me perdendo antes de achar ele.

A mãe de Kay esboçou um sorriso, olhando para Mira, que estava sentada de cabeça baixa, abraçando os joelhos.

— Não se preocupe, pequena Mira. Eu vou trazer meu filho idiota de volta.

— Tá... — respondeu Mira

Com um último aceno para Rem, a mãe de Kay saiu com passos decididos. A brisa da noite acariciava seu rosto, e, ao longe, o brilho da fogueira destacava-se no meio das árvores.

— Que cheiro ruim é esse? — exclamou a mãe de Kay, aproximando-se da fogueira com o nariz franzido.

Kay, que estava agachado, mexendo nas cinzas, olhou para ela sem jeito.

— A carne estava podre... — disse ele, enterrando a caça com uma expressão de nojo.

— Estava? Ou você não limpou direito antes de assar? — retrucou a mãe, cruzando os braços.

Kay desviou o olhar, coçando a nuca.

— Achei que tinha limpado direito... — murmurou, envergonhado, enquanto apagava o restante da fogueira.

A mãe suspirou, balançando a cabeça.

— Kay, quando for caçar, não leve a Mira. Você sabe que ela não consegue ver animais mortos.

— Desculpa... — respondeu ele, a voz carregada de arrependimento.

— E eu te avisei que fomos convidados para almoçar na casa delas hoje. Por que não deixou isso para depois?

Kay deu de ombros, ainda mais envergonhado.

— O cheiro dele estava tão forte... achei que o gosto seria incrível!

A mãe soltou uma risada leve, apesar do sermão.

— Vamos voltar para casa. Já é tarde.

— Tá... — respondeu Kay, pegando o arco e as flechas.

Enquanto caminhavam de volta, a mãe olhou para ele de lado.

— E outra coisa, nada de sair para caçar perto da hora das refeições. Entendeu?

— Tá... — repetiu Kay, resignado.

De volta à casa de Rem, Kay ajoelhou-se na entrada, com a testa encostada no chão.

— Eu sinto muito! — exclamou ele, curvando-se com exagerada reverência.

Rem e a mãe de Kay trocaram olhares cúmplices, segurando o riso. Mira, por outro lado, estava vermelha de vergonha.

— Eu te perdoo... agora, por favor, levanta! Está me envergonhando! — disse Mira, olhando para os lados como se quisesse desaparecer.

Kay ergueu a cabeça, aliviado.

— Obrigado! — disse ele, levantando-se de um salto.

Rem, que observava da cozinha, balançou a cabeça com um sorriso.

— Agora vai comer, Kay. Você está branco feito um lençol!

— Obrigado, tia! — disse ele, já indo em direção à mesa.

— Vai lavar as mãos primeiro! — ordenou a mãe, apontando para o banheiro.

— Tá! — respondeu Kay, indo apressado.

Enquanto ele estava fora, Rem virou-se para Mira, que estava parada, pensativa.

— Nós vamos assistir alguma coisa. Pode fazer café e pipoca para nós?

— Eu não gosto de fazer café... — resmungou Mira, cruzando os braços.

Rem arqueou uma sobrancelha.

— Seu café é ótimo, então para de reclamar. Já fizemos o almoço. O mínimo é você fazer o café!

Mira bufou.

— Isso é chantagem! — protestou, marchando para a cozinha.

Rem reprimiu uma risada, mas não deixou passar.

— Olha como você fala com sua mãe!

A mãe de Kay, que assistia à troca com diversão, comentou:

— Acho que sei onde ela está aprendendo essas coisas... — Deve ser o Kay. Mas... pensando bem, ele não é inteligente o suficiente para usar palavras difíceis.

Nesse momento, Kay passou pelo corredor, enxugando as mãos.

— Até eu sei o que é chantagem! — disse ele, cheio de confiança, estufando o peito.

As duas mulheres pararam e o olharam curiosas.

— Ah, é? Então o que é chantagem, gênio? — perguntou a mãe, desafiando-o com um sorriso de canto.

Kay ergueu o queixo, triunfante.

— É quando uma pessoa mora em Uberlândia, mas trabalha com táxi!

O silêncio durou apenas um segundo antes de Rem e a mãe de Kay se dobrarem de tanto rir, cobrindo a boca para não estourar em gargalhadas mais altas.

— Isso não é chantagem, Kay. Isso é hipocrisia! — corrigiu Rem, ainda tentando recuperar o fôlego.

— Vocês estão erradas! — protestou Kay, o rosto vermelho enquanto saia às pressas.

— Passou vergonha de novo, Kay! Você tem que estudar mais! — provocou Mira, sem tirar os olhos do café que preparava.

Kay bufou, puxando uma cadeira e se sentando à mesa.

— Eu já estudo o suficiente! Só confundi as palavras! — respondeu ele, enquanto começava a encher o prato.

Mira soltou uma risada curta, sem esconder o tom de superioridade.

— Se quiser, eu posso te dar umas aulas. — ofereceu, se gabando.

Kay apenas soltou uma risadinha sarcástica e voltou a atenção para o almoço, ignorando a provocação.

— "Esse garoto me tira do sério!" — pensou Mira, apertando o cabo da cafeteira com mais força do que o necessário.

— Sem brigas, vocês dois! — interveio Rem, observando-os da porta, ao lado da mãe de Kay.

— Não estamos brigando! — disse Kay, mastigando de boca cheia.

— Não me distraiam! Vai sentar lá, vocês duas! — ordenou Mira, apontando para a sala.

Rem ergueu as mãos em rendição, puxando a mãe de Kay consigo.

— Tá bom, você que manda, senhora chef! — brincou, saindo com um sorriso.

Já na sala, a mãe de Kay cochichou para Rem:

— Parece uma esposa cozinhando para o marido.

— Concordo! — murmurou Rem, rindo.

Mira, que ouviu o comentário, ficou vermelha na hora.

— Nem pense em coisas estranhas! — disse ela, girando para encarar Kay.

Mas ele parecia alheio, devorando o prato como se o mundo dependesse disso.

— "Por que ele está comendo tão rápido? E por que parece tão... apático?" — pensou Mira, voltando a atenção para o café.

De repente, Kay levantou o prato vazio.

— Acabei! — exclamou ele, animado.

— Não grita, idiota! — reclamou Mira, assustada pelo barulho repentino.

— Quero um doce! — disse ele, pegando os pratos e indo para a pia.

Mira revirou os olhos, resmungando para si mesma:

— Quer doce... ficou na floresta até agora e ainda quer doce...

Kay se aproximou e a encarou com expectativa.

— Não tem? — perguntou, aproximando o rosto.

— Não me assusta assim, seu idiota! — gritou Mira, dando um tapa no braço dele.

— Nada de brigas! — gritou Rem da sala.

Mira bufou e cruzou os braços.

— Se quer doce, no meu quarto tem alguns. Mas pega só um, entendeu?

Kay sorriu.

— Obrigado! — disse, saindo apressado.

Enquanto ele se retirava, Mira resmungou em pensamento:

— "Ele nem reclamou do tapa... tanto faz, ele mereceu."

No quarto de Mira.

Kay abriu a gaveta e encontrou os doces que ela mencionara. Pegou e comeu um após o outro.

— "Por que nada tem gosto? Isso é estranho..." — disse ele, encarando o papel do doce em suas mãos.

Suspirando, ele deitou na cama dela, olhando para o teto.

— Minha língua deve estar dormente... é isso, não é? Amanhã deve voltar ao normal... — murmurou para si mesmo antes de fechar os olhos e adormecer.

Na sala, enquanto assistiam, a mãe de Kay comentou:

— Bem que a Mira poderia fazer café todo dia. O dela é tão gostoso!

— Pois é, mas ela odeia entrar na cozinha. Acho que puxou o pai dela nesse aspecto. — respondeu Rem, rindo.

— Falando nele, alguma notícia? — perguntou a mãe de Kay, inclinando-se curiosa.

Rem suspirou.

— O mesmo de sempre: ghouls atacando, eles matando os ghouls e salvando quem dá tempo. Acho que só o veremos nas férias. 

— Ter um marido que trabalha no exército deve ser difícil. — comentou a mãe do kay, com um sorriso simpático.

— Seu marido também era do exercito, você estava na mesma situação! — disse rem

A Mãe do kay riu envergonhada.

— É verdade né, faz tanto tempo que tinha me esquecido!

— E falando nele, como anda as coisas entre vocês? — exclamou rem

— Ele anda trabalhando demais e quase sempre está exausto. — disse a mãe do kay

— Todas nós temos nossos problemas. — disse rem, com um suspiro

— Verdade... — disse a mãe do kay, com um suspiro

Nesse momento, Mira apareceu na porta da cozinha, segurando uma bandeja com a pipoca.

— Está pronto.

— Traz para a mamãe e a titia! — disse Rem, dando um sorriso descarado.

Mira revirou os olhos, murmurando enquanto se afastava:

— Já fiz, e agora ainda tenho que levar... está ficando velha, com certeza.

— Eu ouvi isso! — respondeu Rem, irritada.

— Tá bom, já estou indo! — rebateu Mira.

De repente, Kay surgiu na cozinha.

— Eu te ajudo.

Mira o olhou desconfiada.

— Por quê?

Kay não respondeu, apenas pegou a garrafa e as xícaras.

— Quatro xícaras? Você nem gosta de café!

— Só me deu vontade. — respondeu ele, saindo tranquilamente.

Mira suspirou, ainda irritada, mas acabou levando a pipoca para a sala.

— Obrigada! — disseram as duas mulheres, enquanto ela colocava a bandeja na mesa.

— De nada, tia. — respondeu Mira.

Kay serviu café para as mulheres e, surpreendendo Mira, também para ela.

— Está querendo alguma coisa, não é? — perguntou Mira, estreitando os olhos.

— Eu não. — respondeu Kay, pegando sua própria xícara.

A mãe de Kay olhou para ele desconfiada.

— Desde quando você gosta de café?

Kay deu de ombros.

— Parecia mais cheiroso que o normal... fiquei curioso.

Rem e a mãe de Kay riram.

— Sei... — disse a mãe dele, ainda desconfiada.

Kay tomou um gole.

— Idiota! Está quente! — reclamou Mira, com o rosto franzido de preocupação

Kay permaneceu em silêncio. As três mulheres o encaravam, confusas, esperando uma reação. Sem hesitar, ele tomou mais um gole do café, ignorando completamente o calor. Então, de repente, esvaziou a xícara de uma vez só.

— Está gostoso! — disse ele, com um sorriso genuíno e radiante.

Rem, observando a cena, não resistiu e provocou Mira:

— Que bom, né, filha?

— Eu não me importo! — rebateu Mira, desviando o olhar, mas em um movimento desajeitado, tomou um gole do próprio café e queimou a língua. — Está quente! — exclamou, fazendo uma careta.

Kay riu baixinho.

— Obrigado, Mira! — agradeceu ele, com sinceridade.

— Não fiz para você! — retrucou Mira, tentando disfarçar o rubor que tomava seu rosto.

— Já que está tão bom, quer mais um pouco? — perguntou Rem, segurando a garrafa com um sorriso divertido.

— Sim, obrigado! — respondeu Kay, estendendo a xícara com animação.

CENA: O PRESENTE

— Mãe! — gritou Kay, despertando abruptamente de seu sono.

— Não me assusta assim! — exclamou Mira, assustada com o grito repentino.

Kay olhou ao redor, confuso, e então percebeu algo que o deixou ainda mais desconcertado.

— Por que estou... pelado?! — perguntou, com um tom de urgência.

— Você está de cueca, então não diga que está pelado, seu idiota! — rebateu Mira, cruzando os braços.

— Você estava cuidando de mim? — perguntou ele, mais confuso do que antes.

— Você estava suando tanto que precisei te limpar. Não entenda errado! — disse Mira, virando o rosto, claramente envergonhada.

Kay coçou a cabeça, ainda desorientado.

— Quanto tempo eu dormi? — questionou, levantando-se lentamente da cama.

— Seu idiota! — gritou Mira, virando de costas. — Veste logo alguma coisa!

— Já estou me vestindo, calma! — disse ele, tentando acalmá-la. — Dois dias? Desde o treinamento? Eu lembro de ter terminado e estar voltando, mas depois disso... nada.

— Você desmaiou depois de dar alguns passos. Deixou todo mundo preocupado! — explicou Mira, com uma expressão de preocupação misturada com irritação.

Kay suspirou e sentou-se na cama, um pouco pensativo.

— Estava lembrando do dia em que tomei café com nossas mães... — comentou ele, com um tom melancólico.

— Você sonha com isso direto. — Mira revirou os olhos, mas manteve um tom carinhoso.

— Foi naquela mesma noite que... meus pais foram mortos. O vilarejo foi atacado. Mas, por algum motivo, depois do café, minha memória é um borrão. — A voz de Kay diminuiu, carregada de tristeza.

— Tem coisas que a gente prefere esquecer, mesmo que tente lembrar. Eu sempre te digo isso, não é? — disse Mira, sentando-se ao lado dele.

Kay olhou para ela e, pela primeira vez, sorriu levemente.

— É verdade. Obrigado por cuidar de mim todos esses anos, Mira.

Ela cruzou os braços, tentando parecer indiferente, mas seu rosto estava levemente vermelho.

— Essa fala deveria ser para minha mãe, não para mim! E... trate de dar um jeito "nisso" aí embaixo! — disse ela, apontando para Kay, claramente envergonhada.

Kay olhou para baixo, percebeu o problema e se abaixou rapidamente, igualmente constrangido.

— Agora não posso mais me casar... — lamentou ele, dramaticamente.

— Deixa de frescura! — disse Mira, tentando esconder o sorriso. Ela então tirou algo do bolso e exibiu um pequeno anel. — Falando nisso, encontrei isso no seu quarto. Era o que você ia me dar no pátio, não era?

Kay olhou para a mão dela e notou que o anel estava no dedo de Mira. Ele arqueou uma sobrancelha.

— Entendo... Não conseguiu esperar para colocar no dedo, hein? — provocou ele.

Mira ficou completamente corada.

— Faça isso no de casamento, seu idiota! — retrucou, desviando o olhar.

O clima foi cortado quando uma voz surgiu na porta.

— Que climão, hein! — disse Fernanda, surgindo sem aviso.

— Desde quando você está aí?! — gritou Kay, completamente surpreso.

— Desde que ouvi a voz do garoto no corredor. Entrei agora. Por que está aí abaixado? — perguntou ela, com um sorriso malicioso.

— Não é nada! — disse ele rapidamente, levantando-se.

Fernanda deu de ombros.

— De toda forma, parabéns pela recuperação. Agora volte ao trabalho!

Kay fez uma careta.

— Que cruel! Acabei de me recuperar!

— Ela tem razão, Kay. O rei e a rainha vão visitar Mineford amanhã. Temos que fazer a segurança deles! — completou Mira.

— Amanhã?! Tem tantos soldados aqui... Eu posso recusar? — perguntou ele, já antecipando a resposta.

— De forma alguma! Todos os soldados que recuperaram Mineford têm que estar presentes, principalmente o soldado que mais ajudou na causa! — respondeu Fernanda, com firmeza.

Kay suspirou pesadamente, mas foi interrompido pelo som de sua própria barriga roncando.

— Melhor eu tomar um banho primeiro e depois comer alguma coisa... — disse ele, resignado.

Mira riu discretamente, mas logo completou:

— Mira, obrigado por tudo.

Ela corou novamente, mas respondeu com um leve sorriso:

— Não precisa agradecer. Eu sou sua namorada, afinal!

Kay ficou surpreso, mas antes que pudesse responder, Mira virou-se apressadamente:

— Vá tomar banho, e depois liga para a Emilia. Ela está preocupada com você!

Kay suspirou novamente, mas um sorriso leve escapou enquanto ele se dirigia ao banheiro.

A cena muda para Kay no quarto, após o banho. Ele olhou para o celular.

— "São muitas ligações... Parece que a preocupei bastante" — pensou Kay.

Com um suspiro, ele ligou de volta enquanto saía do quarto.


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