Tetsu no Chikara: Saigo no Kibō

Chapter 56: Capítulo 56: Mudança!



Após o treinamento exaustivo do primeiro esquadrão, Kay retornou ao alojamento. O quarto estava mergulhado em um silêncio quase opressor, apenas quebrado pelo som de seus passos ecoando no piso frio. Ele fechou a porta atrás de si e se jogou na cama, os músculos exaustos, mas sua mente inquieta, cheia de pensamentos que pareciam zunir como um enxame.

O teto do quarto parecia mais distante do que nunca enquanto Kay fitava o vazio, tentando organizar o turbilhão de emoções que o consumia.

"Aquela intenção de matar... não era minha. Ou era? Não, não era completamente minha. Foi o ghoul. Não... foi nós. Nossas intenções se misturaram."

A memória de seus companheiros tremendo, seus trajes reagindo instintivamente, estava fresca demais. Ele conseguia ver os olhos arregalados dos soldados e seus punhos cerrados, e até mesmo Sarah, geralmente serena, havia perdido a compostura por um momento.

"Que medo foi aquele que os ghouls sentiram? Medo o suficiente para se subjugarem aos soldados... Medo o suficiente para que o instinto de sobrevivência deles superasse tudo até o orgulho. Mas por quê? Por causa de mim? Por causa dele?" Kay apertou o lençol da cama, tentando afastar a lembrança.

— "Se fosse o contrário, teria sido um massacre..." — murmurou ele, a voz carregada de angústia.

Kay rolou na cama, encarando agora a parede. Ele sabia que o que havia acontecido não era normal. A intenção de matar que havia preenchido o campo de treinamento não era apenas dele, mas também não era só do ghoul. Era uma fusão, um amálgama de emoções — fúria, dor, desespero — que se espalhou como uma onda invisível, fazendo os trajes de combate reagirem violentamente.

"É benéfico para nós, certo?, os ghouls não irão se rebelar tão facilmente. Mas... até onde isso pode ir? Até onde eu posso ir?" O pensamento o fez cerrar os punhos, seus dedos cravando no colchão. Ele não sabia se podia confiar plenamente em si mesmo.

De repente, uma sombra pareceu passar pela sala. Kay sentiu um calafrio, como se algo estivesse observando-o, escondido nos cantos do quarto. Ele se sentou abruptamente, a respiração ofegante. "Estou imaginando coisas?" Seus olhos varreram o ambiente, mas não havia nada lá. Nada... exceto a sensação persistente de que algo dentro dele estava mudando.

Reflexão e Determinação

O luar atravessava a pequena janela do quarto, iluminando o rosto de Kay com uma luz prateada. Ele parou por um instante, encarando a própria imagem refletida no espelho no canto do quarto. Seus olhos, que antes carregavam a chama da determinação, agora estavam sombreados por uma inquietante incerteza.

A dúvida parecia corroer sua mente, como uma tempestade silenciosa. Ele apertou os punhos, fitando seu reflexo como se buscasse respostas que ele mesmo não tinha.

— "Que se dane. A intenção assassina daquela hora era completamente para os ghouls. Se você quer matar a sua própria raça, então tudo bem... Mas que fique claro: você só faz algo quando eu deixar."

Exausto de lutar contra os próprios pensamentos, ele se jogou na cama. O peso da batalha interna finalmente o venceu, e, em poucos segundos, Kay adormeceu.

A tranquilidade do quarto foi quebrada minutos depois, quando Kratos, Sky e Slayer entraram silenciosamente. Eles pararam ao ver Kay adormecido, seus rostos exibindo expressões que iam da preocupação à hesitação. Sem trocar uma única palavra, recuaram e deixaram o quarto, fechando a porta suavemente atrás de si.

No caminho de volta ao pátio, o grupo encontrou Thais.

— "Cadê ele?" — perguntou ela, ansiosa.

— "Dormindo," — respondeu Slayer, com a voz seca e direta.

Os soldados se entreolharam, um peso visível pairando sobre todos eles.

— "Falem com ele amanhã," — sugeriu Ravena, que também estava por perto, com os braços cruzados e um semblante sério.

Joana, que escutava a conversa, abaixou a cabeça, os punhos cerrados ao lado do corpo.

— "Depois de ele se dispor a nos treinar, e ainda assim olhamos para ele daquela forma..." — murmurou ela, com um tom de culpa na voz. — "Como colega, eu me sinto horrível."

Ravena suspirou, sua expressão de costumeiro sarcasmo agora substituída por algo mais sério.

— "Nós também ficamos com medo," — admitiu ela, olhando para o chão.

Joana levantou os olhos, fitando Ravena.

— "Aquele medo que senti... Nem os ghouls que já enfrentei tinham tanto ódio."

As palavras pairaram no ar, carregadas de um peso quase palpável. A lembrança daquele momento era suficiente para fazer seus corações acelerarem.

Thais, que até então permanecera em silêncio, mordeu o lábio inferior antes de falar:

— "Estava mais intenso do que na nossa vez."

Ravena acenou com a cabeça, concordando, mas antes que pudesse responder, o som característico de hélices cortando o ar chamou a atenção de todos.

Ao longe, os helicópteros retornavam, suas luzes perfurando a escuridão. O brilho intermitente dos faróis e o rugido crescente das hélices eram sinais de que o funeral havia terminado. Mais atrás, o som grave e compassado dos motores dos caminhões podia ser ouvido, indicando que os veículos transportando os outros soldados estavam chegando.

— "Estão voltando," — disse Joana, com a voz baixa, mas cheia de alívio.

Os soldados se moveram para longe da área de pouso, liberando espaço para os helicópteros. O ar estava carregado de poeira e tensão enquanto as aeronaves tocavam o solo uma a uma. O som ensurdecedor começou a diminuir, e, pouco depois, o capitão e os soldados começaram a descer.

Kay continuava adormecido em seu quarto, alheio ao movimento do lado de fora. Contudo, uma inquietação parecia rondar os que estavam acordados.

O capitão caminhou até Joana e os outros, parando diante deles com as mãos atrás das costas.

— "Relatório," — disse ele, direto ao ponto.

Joana deu um passo à frente.

— "O treinamento foi um sucesso" — respondeu ela.

Takemichi permaneceu em silêncio por um momento, seu olhar penetrante fixo neles.

— "Entendido. Quero um relatório completo"

— Cadê o Kay? — exclamou Mira

— Ele está dormindo! — respondeu Thais, com um tom de leve desdém.

— Deve ter sido cansativo treinar um esquadrão inteiro... — comentou Mira, rindo suavemente enquanto cruzava os braços.

Thais soltou uma risada seca antes de responder:

— Na verdade, ele terminou o treino em vinte minutos. Nem suou. Depois disso, voltou aqui e foi direto dormir... como sempre!

O sorriso de Mira desapareceu por um instante. Ela suspirou e desviou o olhar.

— Achei que ele tinha mudado... — murmurou ela, com um tom de leve frustração.

De repente, algo chamou sua atenção. Mira virou-se rapidamente para encarar Thais.

— Espera aí! Ele treinou um esquadrão inteiro em vinte minutos? — exclamou, surpresa.

Thais apenas acenou com a cabeça, os braços cruzados.

— Foi algo... estranho, mas é verdade.

— Estranho como? — insistiu Mira, sua curiosidade agora despertada.

Thais hesitou por um momento, lembrando-se da cena vivida no dia anterior.

— Muito estranho — respondeu, finalmente, com uma expressão séria no rosto. — Não consigo explicar, mas a atmosfera mudou...

Mira permaneceu em silêncio, seu olhar cheio de perguntas que Thais não parecia ter como responder.

A manhã seguinte

O sol nascente preenchia o alojamento com sua luz dourada.

— "Como ele consegue dormir até bebendo café?" — disse Sky, incrédulo, enquanto observava a cena ao lado de Slayer e Kratos.

— Mas que...?! — disse Kay, olhando para os dois com os olhos semicerrados, ainda tentando processar o que havia acontecido.

— Kay, o capitão quer você agora no refeitorio.

Kay franziu o cenho, levantando-se rapidamente. Com um movimento firme, ele pegou seu traje e a máscara.

— Vamos treinar toda a divisão restante. Vou precisar do apoio de vocês! — disse Kay, sua voz cheia de determinação.

Kratos, com uma expressão de preocupação, olhou para ele.

— Tudo bem, mas tem certeza disso? — exclamou Kratos, a dúvida evidente em sua voz.

Kay o encarou com firmeza, um brilho intenso nos olhos.

— Certeza eu só tenho de uma coisa: todos os ghouls vão reagir. Agora, se todos eles vão ou não obedecer, já é outra história. Por isso preciso do nosso esquadrão e do primeiro para dar apoio caso algo dê errado. — Kay deu um passo em direção à porta, sem hesitar. — Agora, vamos logo. Não temos tempo a perder.

Kratos suspirou, mas sabia que não havia como detê-lo.

— Eu entendo que quer diminuir o tempo de treino, mas isso é perigoso! — ele insistiu.

— Hoje estou animado! — respondeu Kay, saindo do quarto com uma atitude quase desafiadora. — Vamos treinar antes que eu desanime!

Os garotos o seguiram até o refeitório. Quando entraram, algo os surpreendeu.

— O que estão fazendo? — exclamou Kay, confuso ao ver a primeira e a quinta divisão se curvando diante dele.

— Nos desculpe! Você nos treinou e mesmo assim ficamos com medo e nos comportamos assim... — disse Joana, com um tom de arrependimento profundo.

Kay olhou ao redor, um sorriso irônico aparecendo em seu rosto.

— Até eu fiquei surpreso... Não se preocupem, eu não ligo para isso. Não é como se fosse a primeira vez que vejo esse tipo de coisa.

— Eu te falei! — disse Ravena, observando a cena com uma expressão divertida.

Kay deu um leve suspiro e se virou para os soldados.

— Vou gastar uns dez minutos, então liberem todos para treinar! — afirmou, sua voz firme e segura.

— Toda a divisão? — exclamou Takemichi, espantado.

Kay sorriu com um ar de confiança.

— O ghoul aqui está mais submisso do que imaginei. Ele está odiando a própria raça. — Kay fez uma pausa, refletindo sobre a situação. — Nossos ódios se misturaram, e acabou indo para todos os lados. Mas eu já sei como direcionar.

— Odiando a própria raça? — exclamou Takemichi, com uma expressão de surpresa.

— É engraçado, né? Ghoul odiando ghoul. — Kay fez uma pausa e olhou para eles, seus olhos brilhando com um misto de frustração e diversão. — Bom, acho que é natural, já que, desde que ele virou traje, ele só se alimenta de ghouls.

— Interessante, muito interessante, Kay! — disse Fernanda, com os olhos brilhando de curiosidade.

Kay a encarou, seu olhar se tornando mais severo.

— Nem pense nisso! Não tenho tempo para sua pesquisa agora. — disse ele, interrompendo a empolgação de Fernanda.

— Que chato! — ela respondeu, fazendo uma expressão triste e fofa, embora sem querer disfarçar a irritação.

Kay ignorou a resposta de Fernanda e se voltou para o restante dos soldados.

— Vai liberar eles? Preciso que os outros que já treinaram fiquem prontos caso algum deles saia de controle! — Kay pediu com firmeza.

— Vai em frente! — disse Takemichi, com um aceno de aprovação.

Kay acenou com a cabeça e se virou para a porta.

— Após o café, quero todos do lado de fora da base. Como temos três esquadrões para treinar, os líderes ficarão na frente. Quero distância entre cada esquadrão e seus soldados. Assim, se algum ghoul sair de controle, não irá ferir os companheiros.

Fernanda, que já estava distraída com seu celular, levantou a cabeça com uma ideia.

— Eu vou filmar isso! — disse ela, mandando rapidamente uma mensagem para sua equipe.

Kay olhou para ela com um sorriso de lado.

— Entre eles, podem ter aqueles que voam. Então, nós três é melhor focarmos nesses! — ele disse, destacando os aspectos que precisavam de atenção especial.

Lena, que estava ouvindo a conversa, não pode evitar a exclamação.

— Consegue voar também? — exclamou, olhando para Kay com uma expressão de surpresa.

Kay sorriu de maneira descontraída, como se estivesse se divertindo com a situação.

— E eu achando que me tornei especial! — ele brincou, com um tom desafiador.

Lena caiu de joelhos dramaticamente.

— Mas você é uma das especiais! Acredito que, no máximo, nessa divisão, teremos uns dez, chutando alto! — Kay explicou, com uma expressão séria.

Lena, ainda de joelhos, olhou para ele.

— Só dez? Isso ainda é muito! — ela disse, um brilho nos olhos.

Yan, que estava ao lado, deu uma risada sarcástica.

— Tá brincando, né? Olha o tanto de soldado que tem nessa base. Dez não é nem a ponta da agulha! — ele retrucou, sem disfarçar seu desdém.

Lena olhou para ele, indignada.

— Dez é muito para algo que é especial! — ela rebateu, cruzando os braços.

Joana olhou para ela, com um sorriso travesso.

— Que egoísta! — disse Joana, provocando Lena.

Lena e os líderes começaram a discutir, criando uma atmosfera de tensão e humor entre eles.

Kay observou a cena com um sorriso de canto de boca e, então, virou-se para Mira.

— Pode vir comigo mais tarde? — ele perguntou, com uma expressão ligeiramente curiosa.

Mira o olhou, surpresa.

— Ir aonde? — exclamou, sem entender.

Kay a encarou com um brilho malicioso nos olhos.

— Pode ser depois do treino. Me encontra no pátio! — disse ele, com um tom de brincadeira, mas também sério.

Mira hesitou um momento, mas finalmente respondeu, um pouco preocupada.

— Tá! — disse ela, dando um sorriso nervoso.

Kay sorriu de volta para ela, pegando a garrafa de café antes de se retirar do refeitório.

— Já estão com segredinhos, é? — disse Thais, se aproximando e sorrindo de forma maliciosa.

Mira balançou a cabeça, tentando esconder sua inquietação.

— Não é isso... eu acho! — respondeu Mira, sem conseguir disfarçar a ansiedade.

A cena muda para fora da base, com a tensão aumentando.

— Agora vai ser mais perigoso. Tem certeza de que querem ficar aqui? — exclamou Kay, olhando para os cientistas com um olhar penetrante.

Fernanda, com os olhos brilhando de excitação, não hesitou.

— Cientistas não perdem a oportunidade de registrar uma evolução! — ela respondeu, empolgada.

Kay olhou para ela, um sorriso sarcástico se formando.

— Vocês que sabem. Só protejam a garrafa! — disse ele, antes de se virar para os outros.

Fernanda fez uma expressão dramática.

— Que cruel... você está mais preocupado com uma garrafa de café do que conosco! Me sinto humilhada! — ela disse, exagerando no tom de tristeza.

Kay revirou os olhos, sem paciência.

— Que falsidade... então, cadê o microfone? — exclamou, voltando sua atenção para ela.

Fernanda pegou rapidamente o microfone e entregou a ele.

— É só ajustar perto do ouvido! — disse ela, com um sorriso travesso.

— Obrigado! — respondeu Kay, ajustando o microfone com precisão.

— Aqui está a caixa de som. Ela é bem potente, então, mesmo os que estão distantes vão ouvir, mas tenta não gritar! — disse Fernanda, entregando-lhe o equipamento. — É só apertar aqui que ela liga e você já pode começar a falar!

Kay olhou para ela, com a expressão focada.

— Pode deixar! — disse Kay, se afastando com a caixa de som.

Fernanda olhou para ele, pensativa, e murmurou:

— Se nós tivéssemos a ajuda do Julius desde o começo, será que a humanidade teria avançado tanto assim?


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