Tetsu no Chikara: Saigo no Kibō

Chapter 52: Capítulo 52: O entusiasmo de uma garota!



Depois que as garotas se afastaram, Kay e Mira seguiram para o pátio.

— Eu estava sendo sincero, Mira. Você é mais do que capacitada para ser vice-capitã. — Kay cruzou os braços, observando-a com um olhar firme.

— Mas eu não quero isso! — protestou Mira, sua voz carregando uma mistura de frustração e tristeza.

— Então faz igual sua mãe. Dá um soco nele e diz que recusa! Isso sempre funciona com ele! — Kay sugeriu, com um sorriso travesso.

— Eu não posso socar meu pai! — Mira respondeu, indignada, mas sem conter uma risada nervosa.

— Então eu vou lá fazer isso! — Kay disse, levantando-se abruptamente.

— Não faça isso! — Mira segurou o braço dele, alarmada.

Ambos se sentaram em um banco no pátio. A luz do luar iluminava suas expressões conflitantes.

— Então mostra pra ele que você não é capaz. Assim ele vai ser obrigado a te tirar do cargo. — Kay deu de ombros, tentando parecer despreocupado.

— Eu não posso... Ele confiou isso a mim. — Mira abaixou o olhar, as mãos trêmulas segurando o tecido de sua roupa.

— "Ela nunca vai desistir..." — Kay pensou, observando o rosto dela. Ele suspirou antes de continuar:

— Então eu vou te apoiar. Se você quer fazer isso, vai em frente. Se quer desistir, então desista. Mas, Mira, eu te conheço bem demais para acreditar que você vai recuar. Você vai se sair bem, mesmo que não acredite nisso agora.

— Você acha mesmo? — perguntou Mira, levantando os olhos, relutante, mas esperançosa.

— Olha pra mim. Eu não sou nem de longe tão inteligente ou sociável quanto você, mas mesmo assim consegui liderar uma equipe. Apenas acredite em si mesma e você também vai conseguir.

— Você realmente se saiu muito bem, Kay. — Mira sorriu levemente, enxugando uma lágrima.

— Não quer se gabar pra Rem que conseguiu alcançar um cargo alto? — Kay provocou, tentando aliviar o clima.

— Não tenho essa vontade, não. — Mira respondeu, mas sua expressão suavizou.

— Não? Pois saiba que a Rem tem vontade de que você se gabe. Ela sempre dizia que você tomaria o cargo do seu pai um dia, no lugar dela. Foram palavras dela.

— Sério? — Mira parecia surpresa, seus olhos brilhando com a revelação.

— É verdade. Já discutimos várias vezes sobre isso. Ela dizia que, se você tomasse o cargo, não teria mais tempo para visitá-la, mas sempre reforçava que eu devia vir com você pro Exército, só pra te apoiar.

— Mãe... — pensou Mira, emocionada, enquanto um leve rubor tomava suas bochechas.

— Agora você entende por que ela dizia isso, não é? — Kay sorriu, observando a expressão dela mudar.

— Todos vocês acreditam em mim. Eu vou tentar, pelo menos. Se não der certo, é só sair. — Mira respirou fundo, parecendo mais confiante.

— Vou sempre te apoiar, então, se sentir que isso está te sobrecarregando, jogue o peso em mim.

— Obrigada, Kay. Eu vou mesmo fazer isso. — Mira sorriu, e, em um momento de coragem, Kay inclinou-se e a beijou levemente.

— Eu te amo, Mira. — Kay murmurou, com um sorriso sincero.

— Eu também te amo. — respondeu Mira, sorrindo de volta.

— Que cena adorável. — Uma voz sarcástica cortou o momento. Ravena se aproximava com um sorriso malicioso.

Mira afastou-se rapidamente, o rosto completamente corado.

— Ravena? — Kay perguntou, levantando-se surpreso.

— Joana pediu para te avisar que amanhã cedo você deve comparecer à família real. Eles querem te entregar outra medalha e mostrar a nova forma do traje.

— Eu não quero ir! — Kay reclamou, emburrado. — Pede para alguém do nosso esquadrão ou para o Takemichi. Eles podem transformar o traje também!

— Você é o único aqui com 100% de compatibilidade, Kay. Além disso, foi você quem descobriu isso, lembra? — Ravena cruzou os braços, impassível.

— É obrigatório? — Kay perguntou, já sabendo a resposta.

— Já marcaram a visita assim que retornamos à base. — Ravena confirmou, com um sorriso de vitória.

— Droga! — Kay suspirou, resignado.

— Você tem que ir, Kay. — Mira disse, segurando a mão dele por um breve momento antes de soltá-la.

— Tá bom. Eu entendo. — Kay respondeu com um sorriso cansado.

— Só mais uma coisa: tenta ser um líder exemplar. Ah, e parem de se beijar dentro da base. — Ravena disse enquanto se afastava, acenando sem olhar para trás.

Mira, ainda envergonhada, seguiu Ravena, acenando para Kay.

— Obrigada! — ela gritou antes de desaparecer no corredor.

Kay sorriu, acenando de volta.

— "Bem que ela podia me chamar de amor..." — ele pensou enquanto se levantava. — É melhor tomar um banho e dormir. Amanhã vai ser um dia longo.

A cena muda para a manhã seguinte, na sede do governo.

— Você é aquela pessoa que veio com o capitão... Por que está usando máscara? — exclamou o motorista, franzindo o cenho enquanto observava Kay.

— Faz parte do traje dele! — respondeu Fernanda rapidamente, em tom firme.

— É isso! — confirmou Kay, cruzando os braços em aparente desconforto.

— Ser convocado duas vezes em menos de um mês... Você está indo muito bem! — comentou o motorista com um sorriso orgulhoso.

— Pois é... Tenho que ir mais devagar. — Kay respondeu, com um sorriso de canto, carregado de ironia.

— Muito humilde da sua parte pensar assim! — elogiou o motorista.

— Não, ele só não gosta de atenção. — corrigiu Fernanda, olhando de relance para Kay, que desviou o olhar.

— Depois de hoje, é o que você mais vai ter. Boa sorte! — desejou o motorista.

— Valeu... eu acho. — respondeu Kay, enquanto abria a porta do carro e saía, ajustando a máscara no rosto.

— Obrigada! — disse Fernanda, saindo logo em seguida.

— É um prazer levar soldados da minha antiga divisão. Até mais tarde! — despediu-se o motorista, acenando antes de partir.

Assim que o carro se afastou, um soldado da guarda real se aproximou.

— Por que está usando essa máscara? — questionou o guarda, com um tom desconfiado.

— É um protótipo que o instituto está testando. — explicou Fernanda, antes que Kay pudesse responder.

— Entendo. Peço desculpas. Vou conduzi-los até a sala do rei. — disse o guarda, retomando uma postura formal.

O guarda os guiou por corredores amplos e adornados, com paredes cobertas de tapeçarias que contavam a história do reino. Finalmente, eles chegaram a um par de portas imponentes de madeira maciça.

— Esta é a sala do trono. O rei e sua família estão presentes. Não causem problemas! — alertou o guarda, antes de dar dois passos para trás.

— Pode deixar. — murmurou Kay, revirando os olhos por trás da máscara. "Eles sempre falam isso para quem vem aqui?" pensou.

As portas se abriram lentamente, revelando um salão majestoso, iluminado por grandes lustres de cristal. O tapete vermelho que se estendia até o trono parecia convidá-los a caminhar sob os olhares atentos de dezenas de nobres.

— Imaginei... Aqui continua cheio. — sussurrou Kay, ajustando a postura para parecer mais confiante.

— Pare de reclamar e anda logo! — retrucou Fernanda, com um tom baixo, mas incisivo.

Enquanto caminhavam, Kay percebeu Emilia, a princesa, sorrindo e acenando discretamente para ele. Sem pensar, ele retribuiu o gesto. Isso bastou para atrair os olhares de todos para a família real, fazendo Emilia corar e abaixar a mão rapidamente.

— Você está aqui como autoridade. Não demonstre tanta amizade com ele! — sussurrou a rainha para a princesa, com um tom firme.

— Tá bom... — respondeu Emilia, desviando o olhar.

Kay e Fernanda pararam diante do trono e se curvaram profundamente.

— Vocês têm feito bastante progresso no exército. Para ser sincero, como rei, nunca imaginei que entregaria duas medalhas às mesmas pessoas em um único mês! — declarou o rei, com um sorriso leve.

— Agradece! — murmurou Fernanda, cutucando Kay discretamente.

— Obrigado. — disse Kay, tentando soar formal.

— Ghouls voando, Mineford recuperada e, agora, novas formas do traje. Isso é tão inacreditável que chega a ser engraçado! — disse o rei, soltando uma gargalhada.

— Obrigado. — Kay respondeu novamente.

— Não era pra ter agradecido agora! — sussurrou Fernanda, contendo a irritação.

— Como eu ia saber? — respondeu Kay, também em um sussurro.

O rei continuou, com um tom mais sério:

— Recebemos o vídeo sobre o treinamento de vocês. Claro que uma líder de esquadrão voando pelos céus nos deixou incrédulos.

— Agora agradece! — insistiu Fernanda, em tom urgente.

— Que coisa complicada... — resmungou Kay, antes de se corrigir. — Obrigado.

— Eu gostaria de esclarecer algo diante de todos aqui presentes. Essa nova forma é uma ameaça? — perguntou o rei, em um tom inquisitivo.

— Depende. — respondeu Kay, sem hesitação.

— Do quê? — pressionou o rei, estreitando os olhos.

— De quem a usa. Os tentáculos e asas fazem parte do traje. Se a pessoa tem controle, é seguro. Mas, se não tem e tenta usar... então é uma ameaça para todos ao redor. Depende da intenção do usuário: bem ou mal. Por isso, digo que depende da pessoa. — explicou Kay, com um tom firme.

— E como você se descreveria? — desafiou o rei, inclinando-se ligeiramente para frente.

— Se quer ver, é só pedir. Deixa de drama. — respondeu Kay, com uma ousadia que arrancou murmúrios da plateia.

Antes que o rei pudesse reagir, Fernanda interveio:

— Majestade, o protocolo foi seguido. Além disso, estamos avaliando como otimizar o treinamento para tornar o processo mais seguro. — disse ela, com diplomacia.

— Resumimos o relatório para esta reunião, e estas são as palavras da cientista Fernanda — anunciou o cientista, segurando um documento enquanto ajustava os óculos. Ele começou a leitura em voz alta:

— "Os trajes, por serem feitos de materiais provenientes de ghouls, de alguma forma mantêm vestígios da consciência dos próprios ghouls. Esses traços residuais entram em conflito, devorando-se mutuamente até que reste apenas um, mais forte, que passa a dominar o traje. A porcentagem de compatibilidade dos soldados com os trajes depende diretamente do quanto eles são capazes de sincronizar com essa consciência residual.

"Em minha visão como cientista, toda vez que um traje é reparado, o novo material de ghoul usado nesse processo também pode acabar interferindo na consciência predominante. Isso pode alterar a porcentagem de compatibilidade dos soldados, para melhor ou para pior.

"Durante os testes, um dos recrutas, chamado Kay, que possui uma compatibilidade inicial de 100%, descobriu um método de subjugar a consciência do ghoul dominante, o que permitiu aumentar sua compatibilidade para impressionantes 150%. Esse feito foi observado e validado em combate e treinamento. Além disso, os trajes podem, aparentemente, assumir características físicas dos ghouls, como tentáculos e asas, caso o usuário consiga um 'acordo' com essa consciência."

O cientista fez uma pausa para olhar ao redor da sala antes de continuar:

— "No treinamento, Kay desempenha um papel fundamental, pois é o único que consegue acessar e interagir diretamente com essas consciências sem sofrer danos, auxiliando outros recrutas a se adaptarem aos trajes. Estamos investigando métodos alternativos para replicar esses resultados sem depender exclusivamente dele."

O cientista terminou a leitura e olhou para Kay. — Essas foram as palavras da cientista Fernanda.

Kay inclinou a cabeça ligeiramente, como quem ponderava algo. Em seguida, falou com um tom casual:

— É isso aí. Não tenho muito a acrescentar... bom, na verdade, tenho uma coisa. Quando o ghoul dominante devora as consciências dos outros, ele se cura. Isso pode afetar diretamente o desempenho do traje, já que o ghoul se torna mais forte e mais... arrogante. Eles começam a tentar assumir o controle do traje. É como uma quebra de limite — explicou Kay, cruzando os braços. — E, sinceramente, se tentarem forçar uma pessoa a usar o traje sem estar preparada, o ghoul vai perceber e sabotar tudo.

O rei, que até então ouvia em silêncio, inclinou-se para frente no trono, com o olhar firme.

— Na pior das hipóteses, o que aconteceria se um ghoul recuperasse totalmente sua consciência? — questionou um dos cientistas, quebrando o silêncio tenso.

Kay deu um meio sorriso, mas seus olhos refletiam seriedade.

— Se isso acontecer... o soldado morreria. O ghoul se libertaria, usando os tentáculos para atacar indiscriminadamente até que sua energia se esgotasse. Mas, como eles não conseguem enxergar ou sentir o mundo ao redor como nós, acabariam sucumbindo à fome. Isso, claro, se não encontrassem outro ghoul para consumir antes — respondeu, sua voz carregada de um peso sombrio.

O ambiente ficou silencioso, a tensão palpável no ar. Fernanda deu um passo à frente, quebrando o gelo:

— É por isso que nosso foco deve ser em treinamento intensivo e controle absoluto. Temos a tecnologia e as ferramentas; agora, precisamos garantir que ninguém seja colocado em risco desnecessário.

O rei assentiu lentamente, sua expressão grave.

— Muito bem. Kay, agradecemos sua sinceridade. Sua contribuição tem sido inestimável. No entanto, o peso que você carrega é grande. Espero que esteja preparado para as provações que virão.

— Provações, conquistas... joguem tudo para o capitão. Eu não quero meu nome, muito menos meu rosto, espalhado por aí. Para ser sincero, é horrível ter repórteres no meu pé! — disse Kay, com um tom exasperado

O rei ergueu uma sobrancelha, surpreso com a atitude do jovem. Sua voz ecoou pelo salão, firme:

— Não podemos atribuir as conquistas de uma pessoa a outra!

Kay suspirou e, com um meio sorriso irônico, rebateu:

— Então diga que foi o líder do quinto esquadrão. Mas nada de divulgar meu rosto ou meu nome! Não quero ser parado toda vez que andar por aí.

O rei inclinou-se levemente para frente no trono, o olhar afiado:

— E esse líder... quem seria?

Kay apontou para si mesmo com o polegar, o rosto calmo, mas com um brilho desafiador nos olhos:

— Eu.

Antes que o rei pudesse responder, Fernanda interveio:

— É uma decisão recente, aprovada pelo capitão e pelos outros líderes da sexta divisão. Oficialmente, Kay foi nomeado líder do quinto esquadrão, mas a informação ainda não foi divulgada ao reino.

O rei cruzou as mãos sobre a mesa e refletiu por um momento, então assentiu.

— Entendo. Será feito dessa maneira. As conquistas serão atribuídas ao líder do quinto esquadrão da sexta divisão. Nenhuma menção ao nome ou rosto dele será publicada.

— Será como o senhor desejar! — responderam todos os presentes em uníssono.

Satisfeito, o rei voltou sua atenção para Kay.

— Agora que tudo está esclarecido... pode nos mostrar o que foi mencionado no relatório?

Kay levantou-se sem cerimônias, ajustando a gola do traje. O salão ficou em silêncio enquanto ele se posicionava no centro. Então, lentamente, tentáculos negros começaram a surgir do traje, movendo-se como serpentes ao seu redor. O ar parecia ficar mais pesado, e mesmo os soldados mais corajosos engoliram seco diante da visão.

Os tentáculos eram longos, ágeis, quase hipnotizantes. Alguns se enrolavam em volta de Kay como uma armadura viva, enquanto outros se estendiam pelo salão, como se examinassem o ambiente.

— São como mãos extras — disse Kay, com naturalidade, enquanto fazia os tentáculos se moverem com precisão. — Eles obedecem à minha vontade.

A jovem princesa Emília, que observava com os olhos brilhando de admiração, exclamou:

— Que incrível!

Kay riu, relaxando a postura.

— Não é? Sabia que você ia gostar.

— Contenha-se, Emília — repreendeu a rainha com uma voz calma, mas autoritária.

— Desculpa! — respondeu a princesa, tentando conter sua empolgação.

Os tentáculos se retraíram, voltando ao traje e restaurando sua aparência normal. Kay suspirou e passou a mão pelos cabelos, como se quisesse dissipar a tensão no ar.


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