Chapter 116: Capítulo 117: A receita para fazer armas!
— Meu nome é Kay. Estou em casa agora. Já se passaram dois dias desde a morte dos meus pais... — Kay fez uma pausa, respirou fundo, tentando organizar os pensamentos. — Estou gravando isso para o caso de eu perder a memória novamente.
Ele olhou para a câmera com uma expressão séria e melancólica.
— Não me lembro de tudo, mas a Mira e a Rem disseram que fui eu quem eliminou o ghoul que matou meus pais. No entanto, no dia do ataque, a última coisa que me recordo é estar na casa delas para almoçar. Meus pais ainda estavam vivos. Adormeci assistindo a um filme e, quando acordei, já era outro dia. Os ghouls haviam atacado. Meus pais... — Ele engoliu seco. — E alguns moradores da vila morreram.
Kay desviou o olhar por um momento antes de continuar:
— Por algum motivo, a Lavel apagou a gravação desse dia, então não sei exatamente como tudo aconteceu. Só estou gravando isso para que, caso perca minhas memórias de novo, eu saiba que existe algo em mim capaz de lutar contra os ghouls. Eu decidi pedir para a Rem nos treinar. Precisamos estar preparados para atacar, para sobreviver.
Kay se inclinou ligeiramente para frente, o rosto iluminado pela luz fria da tela.
— A arma que usei foi o bastão de beisebol do meu pai. A Mira disse que foi a primeira coisa que peguei quando entrei em casa... Não sei por quê. É impensável que uma criança consiga matar um ghoul, mas aconteceu.
Ele respirou fundo, lutando para manter a compostura.
— Quero relatar algo... ultimamente venho sentindo um cansaço constante, físico e mental. Não sei até quando conseguirei manter minhas memórias. Nos meus tempos livres, vou continuar as pesquisas dos meus pais. Ah, também preciso registrar que a Mira faz uma bebida especial... ela me mantém acordado. Não faço ideia do que é, mas pretendo perguntar.
Kay colocou uma das mãos na cabeça, claramente incomodado.
— "Minha cabeça dói", — pensou ele. — "Mas ao mesmo tempo, quando bebo aquilo, sinto que todos os meus aspectos físicos e mentais melhoram."
Ele se esforçou para sorrir levemente para a câmera.
— Vou abusar um pouco da gentileza da Mira, mas preciso me manter acordado para continuar as pesquisas. É isso. Lavel, guarde este vídeo e me mostre caso eu perca as memórias novamente. Faça também um backup do seu sistema. Vou implementar algumas modificações.
A imagem muda.
Dia 1 após o treino com Rem:
— Como podem ver no vídeo da câmera... — Kay aparece suando e ofegante. — Rem me mandou ficar fazendo esse movimento até me cansar. Passei metade do dia nisso.
Ele riu, mas havia uma sombra de exaustão em sua voz.
— Ela ficou surpresa com minha resistência. Eu também fiquei.
No vídeo, Kay aparece almoçando com Mira e Rem. Após a refeição, ele toma o café especial de Mira.
— Depois do almoço, bebi o café da Mira e parecia que toda a minha força tinha voltado. Então, fui para casa. Disse a elas que precisava ficar sozinho. Elas ficaram preocupadas, mas não insistiram.
A imagem muda para Kay sentado em frente a uma mesa, concentrado.
— Consegui aprimorar as funções da Lavel. Ainda faltam alguns upgrades, mas, assim como minha mãe imaginou, ela pode se tornar um ser independente que está sempre evoluindo. Não é, Lavel?
— Sim, Kay. — respondeu a voz da inteligência artificial.
Kay sorriu levemente e continuou:
— Vou continuar fabricando a arma que meus pais estavam desenvolvendo com o ghoul capturado. Meu olfato agora consegue sentir o cheiro dele mesmo dentro da cápsula. O cheiro é horrível, mas já me acostumei.
Ele fez uma careta, como se relembrasse o odor.
— "Preciso pensar em algo para neutralizar isso depois."
Kay se levantou e caminhou até uma maleta.
— Lavel, mostre a arma que meu pai queria construir!
A imagem de um revólver apareceu na tela.
— Divida a arma em todas as peças que a compõem.
A imagem se ajustou, mostrando o revólver desmontado em várias partes.
— Mostre apenas as peças que meus pais não montaram ainda.
As peças restantes desapareceram, e Kay abriu a maleta.
— Estão todas aqui? — perguntou ele, enquanto examinava o conteúdo.
— Sim. — confirmou Lavel.
— Mostre como montar um revólver normal.
Um vídeo instrutivo surgiu na tela. Kay assistiu com atenção, seus olhos fixos em cada detalhe.
— Entendi. — Ele fechou a maleta e sorriu levemente. — Isso aqui é só um monte de carne... talvez não seja exatamente o mesmo conceito, mas, já que as peças são parecidas, vou montar da mesma forma.
No vídeo, Kay trabalha rapidamente. Suas mãos movem-se em uma velocidade que seria impossível para um humano comum.
— Então é assim que se monta um revólver. — murmurou ele. — A questão agora é como fazê-lo funcionar. Não acho que seja possível, já que é só carne...
Ele carregou o revólver com balas feitas a partir da mesma matéria do ghoul capturado.
Kay olhou para a arma, sua expressão firme.
— Minha mãe acredita que funciona. Caso contrário, ela não teria ajudado meu pai a montá-lo. Mas como exatamente isso deve ser usado? — Kay murmurava para si mesmo enquanto pensava em voz alta.
No monitor, a imagem do traje que seu pai estava desenvolvendo apareceu.
— É verdade, bem lembrado! — exclamou ele, deixando a arma sobre a mesa e saindo apressado do laboratório.
Alguns minutos depois, Kay retornou com o traje em mãos, colocando-o cuidadosamente sobre a bancada.
— Tem outras substâncias misturadas nesse traje... — Ele analisava o material com atenção quase cirúrgica. — Talvez seja o material da tinta. E tem algo mais aqui... sinto bem pouco, mas o cheiro... isso é noxium!
Kay franziu o cenho, intrigado.
— "Por que teria noxium no traje? Isso não faz sentido... ou faz?" — pensou ele.
Ele olhou o traje como se tentasse decifrar um quebra-cabeça.
— Seria mais rápido se eu tivesse acesso ao banco de dados do instituto. — Ele respirou fundo e apontou para Lavel. — Quero testar uma coisa. Grave isso bem, Lavel!
— Tá! — respondeu a inteligência artificial.
Kay olhou ao redor do laboratório, avaliando suas opções.
— Preciso construir uma área de tiro. Se eu ficar testando isso na floresta, corro o risco de a Rem e a Mira descobrirem o que estou fazendo. Lavel, sabe onde elas estão agora?
No monitor, a imagem da casa de Rem apareceu.
— As duas estão lá? — perguntou Kay, com um olhar atento.
— Sim. — confirmou Lavel.
— Ótimo. Vou fazer o teste na floresta. — Kay pegou a arma feita de partes de ghoul e começou a caminhar em direção à saída. — Mande um alerta no meu celular se elas saírem da casa!
Ao passar por uma parede discreta no laboratório, Kay apertou um botão oculto. A parede deslizou suavemente, revelando um arsenal completo de armas que pertenceram a seu pai. Ele pegou um revólver padrão e o examinou rapidamente antes de sair em direção à floresta.
Na floresta:
A gravação agora mostrava Kay em uma clareira isolada, cercada por árvores altas. Ele começou descarregando completamente a arma feita de ghoul, removendo cada uma das munições. Fez o mesmo com o revólver convencional que trouxera consigo.
— "Se ele reage quando entra em contato com alguém compatível... como vai reagir ao noxium?" — pensou Kay, seus olhos brilhando de empolgação.
Ele colocou uma munição feita com noxium na arma de ghoul, observando cada movimento com atenção quase obsessiva. Em seguida, colocou a arma no chão e recuou lentamente.
— Nenhuma rejeição... — murmurou, caminhando de volta para perto da arma.
Kay a pegou com cuidado e, segurando-a firmemente, respirou fundo.
— Agora vamos descobrir como funciona.
Ele apontou a arma para uma árvore robusta próxima, posicionando os pés no chão e ajustando o peso do corpo para um disparo estável. Com as mãos firmes, ele segurou o cabo da arma e pressionou o gatilho levemente, testando sua sensibilidade.
O revólver começou a emitir um som grave, quase como um rugido abafado, seguido de um brilho sinistro que emergia das junções das peças feitas de carne. O brilho percorreu a arma como veias pulsantes, indo diretamente para o cano.
— "Isso não é só uma arma... ela está viva!"
Sem hesitar, Kay firmou ainda mais a mão e apertou o gatilho.
Um disparo ecoou pela floresta. Não foi um som comum de arma de fogo; era algo mais profundo, quase visceral. A bala, atingiu a árvore, e o impacto causou um furo que a atravessou.
Kay observava, perplexo.
— Isso vai ser... destruição pura... — sussurrou ele, olhando para a arma em suas mãos.
O revólver ainda emitia uma leve pulsação, como se estivesse "respirando", um brilho sinistro pulsando ritmicamente através das suas veias carnais.
— Lavel, registra tudo. Isso vai ser importante. — Kay segurava a arma com firmeza, os olhos atentos a cada detalhe. — Não foi um tiro comum. O noxium foi expelido pela arma e....ela está se regenerando. Vamos precisar tornar cada peça mais firme. Podemos criar armas que superem facilmente as que os soldados usam.
Ele aproximou o revólver do rosto, sentindo o cheiro forte e penetrante.
— O odor ficou mais intenso... — Ele fez uma pausa, franzindo a testa. — Isso confirma que só materiais de ghouls do mesmo nível ou superiores a esse podem ser usados.
Kay começou a recolher as munições espalhadas no chão, já planejando seu próximo passo.
— Quanto às balas... vou fazer testes, mas acho que é melhor misturar o noxium só nelas. Se o noxium entrar em contato com a arma antes do gatilho ser puxado, há um risco do ghoul expelir a munição. E quanto à tinta? Hah, podemos pensar nisso depois. — Ele terminou, deixando escapar um sorriso cansado.
De volta ao laboratório, Kay colocou as armas sobre a mesa e olhou para elas com determinação.
— Vou começar a fabricar as balas outro dia. — Ele suspirou, pensativo. — A Rem quer que eu more com elas... Não posso ficar vindo aqui toda hora, mas vou tentar vir sempre que possível.
De repente, o monitor do laboratório brilhou, interrompendo seus pensamentos. Uma notícia surgiu na tela, e ele começou a ler em voz alta.
— "Nova líder de esquadrão! Himitsu, uma nova recruta da Primeira Divisão, demonstrou desempenho excepcional no exército e, em poucos dias, tornou-se líder de esquadrão."
Kay estreitou os olhos, o tom de surpresa misturado com indignação:
— Então é isso que minha tia está fazendo? Entendi. Parece que ela já conseguiu o que queria... — Ele parou por um momento, analisando a imagem que acompanhava a notícia. — Que martelo enorme é aquele? Um martelo, né? Interessante. Talvez eu deva tentar criar uma arma branca depois de terminar essa aqui.
Na tela, Lavel fez aparecer uma carinha sorridente, como se aprovasse a ideia.
Kay deu uma leve risada, mas logo franziu o nariz.
— Na floresta eu senti o cheiro... A Mira deve estar fazendo café. — Ele esticou os braços, sentindo a exaustão no corpo. — Meu corpo ficou mais cansado depois daquele tiro. É uma boa hora para ir até lá.
Kay foi até a sala de mantimentos, preparou mais uma cesta com itens e partiu para a casa da Rem.
No dia seguinte:
O vídeo mostrava Kay treinando intensamente desde o início da manhã. Ele repetia os movimentos que Rem havia instruído com precisão, o suor escorrendo pelo rosto. Por volta do meio-dia, Rem apareceu, chamando-o para almoçar.
— Isso vai mesmo me deixar mais forte? — perguntou Kay, ofegante, mas com uma ponta de dúvida no tom.
— Tá me questionando? — respondeu Rem, cruzando os braços com firmeza. — Se eu falei que vai ficar mais forte, então você vai ficar mais forte!
— Tá! — Kay respondeu, meio contrariado, mas sem contestar mais.
Eles almoçaram juntos, e à tarde Kay voltou para casa.
No laboratório:
Kay estava pensativo diante do monitor, as mãos cruzadas sob o queixo.
— Como vou juntar dois opostos que não podem se unir?... Talvez uma cápsula para o noxium? — murmurou, enquanto analisava os dados no monitor. — Os trajes parecem misturar ambos. Como eles fizeram isso?
Ele se virou para Lavel, esperando alguma sugestão.
— Tem alguma ideia, Lavel? — perguntou, levantando as sobrancelhas.
No monitor, uma carinha triste apareceu, indicando que Lavel também não tinha uma solução.
Kay suspirou e olhou para o traje de seu pai, pendurado ao lado.
— O traje parece uma roupa normal. As pessoas que criaram isso são mesmo gênios. Não deve ter problema testar para ver como ele se sente, né?
Kay vestiu o traje com cuidado, mas ele ficou largo e caiu até o chão, arrastando-se enquanto ele se movia.
— É como uma roupa comum! — disse, impressionado com o conforto e leveza.
De repente, uma fumaça densa começou a sair do traje.
— Por quê?! — exclamou Kay, surpreso e confuso.